Tapirapé - tribo tupi no Brasil Central

Os índios tapirapé chamam o rio Tapirapé aviohy (ou: aviuhy) o que quer dizer: água das penugens, sendo hy a água. Apreciam muito, para adornar-se, as penugens do jabiru, pato e urubu e as encontram, principalmente, naquele rio.

O Tapirapé corre por uma vasta região de campos que, na maior parte do seu curso, são separados dele por uma faixa de mata cuja largura varia consideravelmente. Estes campos se estendem num terreno em geral tão plano que o horizonte poderia ser amplíssimo não fossem aquelas árvores de dois a três metros de altura distanciadas umas das outras de apenas alguns passos, formando o chamado campo cerrado. É verdade que a distância entre essas árvores aumenta, às vezes, perdendo elas o seu caráter raquítico e ganhando mais alguns metros em altura. Não faltam, porém, grandes trechos de campo limpo, isto é, capinzais completamente livres de árvores. Acontece serem eles cortados por estreita faixa de árvores de porte alto onde se esconde um fio de água, ou interrompidos por buritizais pantanosos. Isso não impede que também grandes partes desses campos limpos continuem alagadas na estação da seca, ficando então seu solo de terra negra frequentemente tão escorregadio que bem mereceu a denominação de "sabão" com a qual batizei esses lugares onde, involuntariamente, pratiquei ginástica, patinando sobre eles.

Por outro lado, porém, é certo que a maioria de todos os campos dos arredores do Tapirapé secam, naquela época, a tal ponto que são facilmente inflamáveis. O fato de no dia 15 de junho de 1935 quando estive em Tampiitaua, aldeia dos índios tapirapé, ter visto colunas de fumaça ao norte, sudoeste e este, levou-me a constatar a existência de campos e gente nas mencionadas regiões. Nesses campos ressecados o solo chega a ser tão duro que os índios necessitam aplicar massagens nos pés e nas pernas após longas caminhadas sobre o mesmo. Mas só raras vezes apresenta-se pedregoso. Encontrei-o coberto de seixos arredondados de cor vermelho-parda, apenas em alguns pequenos sítios, sobretudo em pequenos trechos de campo cerrado, perto da mata habitada pelos tapirapé.

Os campos da hinterlândia da margem esquerda do rio são limitados, ao norte, por essa imensa floresta na qual muitas gerações de índios tapirapé encontraram bastante mata virgem para fazerem, todos os anos, grandes roças novas que lhes deram abundância de bananas, milho, amendoim, cucurbitáceas, feijões, mandioca, cará, batata-doce, pimenta, fumo e algodão. É uma selva que, além de estar inundada, em parte considerável, até no tempo da seca, contém arroios em espraiados leitos de areia clara, que oferecem água límpida e fresca para beber e tomar banho, variedades de peixes e peixinhos para comer.

Os únicos caminhos feitos pelo homem nos arredores do rio Tapirapé eram, em 1935, os atalhos marcadamente pisados pelos índios homônimos. Tinham no campo, cerca de 20 centímetros de largura e aquela linha continuamente sinuosa que o homem, marchando em terreno plano, traça não intencionalmente. Podemos observar essa sinuosidade, por exemplo, numa grande praia quando tentamos ir diretamente para um determinado ponto e encaramos, depois, a linha imprimida por nossos

Tapirapé - tribo tupi no Brasil Central - Página 20 - Thumb Visualização
Formato
Texto