A hipótese acerca desta procedência apoia-se, ainda, nas declarações que me fizerem os próprios tapirapé. Dizem que moravam, anitagamente, ao norte de Conceição e mais perto do Araguaia do que hoje, mas que vieram pouco a pouco, mais para o sul, por medo dos caiapó, e mais para o oeste, por medo dos carajá. Acrescentam, porém, nunca terem morado ao sul do rio Tapirapé, que representa o limite meridional do seu atual território. Interessante é o fato de terem mantido os habitantes de Tampiitaua relações contínuas com outra aldeia tapirapé situada "dez dias de marcha ao norte", portanto, numa distância considerável, ao passo que não tinham relação alguma com os seus supostos vizinhos do sudoeste, os chamados ampaneá, aparentemente também tupi e muito menos distantes de Tampiitaua do que aquela aldeia tapirapé setentrional. É possível que os ampaneá e tapirapé tenham chegado aos seus atuais territórios, vindos de direções diferentes, ou que os primeiros para lá foram muito antes de os tapirapé se terem tornado seus vizinhos.
Kissenberth (2 40-41, 75-78) acha possível serem produtos da cerâmica tapirapé os cacos encontrados por ele no Morro dos Caiapós situado no hinterland ocidental de Conceição do Araguaia e quase na mesma latitude que esta localidade (cf. ib. 37: mapa). Declarando não conhecer cerâmica tapirapé, afirma o mesmo autor (ib. 77): "Já uma comparação superficial dos cacos com produtos cerâmicos e restos de panelas de povos sul-americanos indica forçosamente os tupi-guarani". - A respeito disso posso dizer que não encontrei na cerâmica atual dos tapirapé a ornamentação dos cacos em questão.
Em apoio da suposição de terem vivido os tapirapé, antigamente, ao norte do seu atual habitat, Kissenberth (ib. 41) observa ainda: "Os primeiros afluentes direitos mais importantes do Itacaiúnas têm os legítimos nomes tupi Cateté e Tapirapé. - Como os mebengokre-caiapó contam, mora, em nossos dias, justamente naquela região de matas virgens das cabeceiras do Itacaiúnas, um povo de antropófagos: os kubênépre (quer dizer: índios morcegos) que, segundo a descrição, devem pertencer aos tupi". - Estes argumentos, embora interessantes, são, por enquanto, fracos, especialmente à vista dos mudjetíre na região do Itacaiúnas.
Aliás, já Milliet de Saint-Adolphe (II 674) menciona como habitante desse rio uma "tribo tupinambás" chamada "tacanhuna" escrevendo da mesma forma o nome do Itacaiúnas ou Tacaiúna.
Outra informação que precisa ser discutida, é a dada por Monteiro Baena em 1847, segundo a qual os tapirapé moravam, naquele tempo, ao norte da Ilha do Bananal, pois lemos (98): "Começam da 19ª ilha para cima os sítios em que se acham estanciados os carajás... A primeira cachoeira na subida do rio jaz vizinha da décima ilha apelidada Tanaxiue, e a entrada do Araguaia está entre leste e sueste: é larga, tem dentro barreiras brancas, praia de areia e lagos. Daqui até á primeira habitação dos carajás acha-se povoado o rio da gentilidade seguinte: apinajé, turiuara, iparanim, tapirapé, carauau, carauadu, araueré, uacuraá, aruaque, tacuaiúna, jacundá, pinaré, carajá, carajaí". A seguinte observação do mesmo autor (93) evidencia que o "rio" em questão