constantemente: "Tratava-se de um caso de broncopneumonia, com focas esparsos em ambos os pulmões, em estado gravíssimo".
Não era sem razão que os tapirapé, cada vez que entravam em contato com um branco, temiam contrair doença do aparelho respiratório. Bem viva estava, entre eles, a lembrança de gripes destruindo inúmeras vidas e afetando profundamente a cultura (cf. Wagley 2). Durante as minhas visitas a Tampiitaua não verifiquei catarros e resfriados, mas não tive dificuldade de obter os termos amyva: defluxo e muco, anchima: espirro, oó: tosse (Montoya 2 I 491: uú).
Kamairahó e sua mulher queixaram-se, frequentemente, de angkyngay: dor de cabeça (Montoya 2 I 226: Acângaci,(*) Nota do Revisor Stradelli 185: Acangacy), sendo ay: dor (Montoya 2 I 226: Taci,(*) Nota do Revisor Stradelli 184: Sacy). Kamairahó passou um dia inteiro sem comer e deitado na rede declarando que lhe doíam cabeça e barriga. Como deu a entender que tinha prisão de ventre e pediu o meu auxílio, preparei-lhe com água uma solução de sal amargo. Sem hesitar engoliu o purgante desagradável, dizendo cortesmente: chikangtú, "que bom!" Atribuiu, depois, a dor de cabeça a um dente incisivo solto que, por razões estéticas, não queria deixar tirar. Apesar dos sofrimentos continuava sempre alegre e delicado. Mesmo ao regressar para casa durante a noite, depois do efeito do sal amargo, riu para mim dizendo: "Kaká grande!" Enumerava, então, uma dúzia de remédios tapirapé para dores de garganta, peito e ventre, consistindo em folhas, cortiças, frutas e cipós, os quais, porém, não pude identificar.
Três dias depois, Kamairahó ficou novamente na rede queixando-se de dor de barriga: o efeito do sal amargo tinha-lhe aumentado o apetite tanto que comeu demais.
A dor de cabeça de Maräromyó, sua mulher, foi tratada xamanisticamente pelo marido, como descrevi no capítulo XIII; mas esta cura não incluiu, ao final, o pedido de maynga ou mayra, remédio do branco, neste caso aspirina.
Aliás, nunca observei, nas numerosas curas executadas pelos quatro panché em 1935, o tratamento de um indivíduo masculino: eram só mulheres e meninas que precisavam do socorro mágico. Geralmente, suas queixas se referiam a perturbações do aparelho digestivo (cf. cap. XIII) e estas, não raras vezes, eram provocadas por excesso de comer. Assim o caso de Ampitania que, depois de um dia com diarreia sangrenta, passava alegre o dia seguinte comendo sem parar e sem dieta, de modo que à noite estava novamente com dor de barriga precisando, como na noite anterior, a assistência de dois panché. Tornou a estar alegre no terceiro dia, levando, então, como remédio, um pedacinho de madeira fixado no umbigo tão chupado durante as curas xamânicas. Aliás, também os outros medicamentos tapirapé que vi empregar, eram só para uso externo. Contra as cólicas provocadas por mandioca ruim untavam-se tronco e braços com mingau de amendoim mastigado. Aquele que sentia doer os pés e as pernas depois de longa caminhada sobre solo duro, lhes aplicava fumaça de tabaco soprada diretamente sobre a pele ou trazida a esta pelas mãos que a esfregavam.