Tapirapé - tribo tupi no Brasil Central

XVII

O visitante


Ao tratarmos do comportamento dos tapirapé em suas relações com o forasteiro, serão descritos tanto os modos de me receber e certas maneiras de reagir a estímulos trazidos por mim na decorrer das minhas estadas em Tampiitaua nos anos de 1935 e 1947, como também usos ainda não mencionados que, sem serem provocados propriamente pela minha presença, foram por mim testemunhados.

O que logo chama a atenção é a hospitalidade realmente elaborada desses índios, e nisso lembram os tupinambá, embora sejam tão diferentes deles em outros aspectos, tais como a belicosidade (cf., por exemplo, Florestan Fernandes 3).

Jean de Léry (279) conta como, ao visitar pela primeira vez um grupo local tupinambá, viu-se logo cercado de gente perguntando-lhe o nome; um lhe tirou o chapéu, pondo-o na própria cabeça, outro, a espada com o cinto, que cingiu ao corpo nu; e, assim, correram gritando pela aldeia. O francês, todo estonteado, já considerava perdidas suas coisas. "Mais comme l'experience m'a monstré plusieurs fois depuis, ce n'estoit que faute de sauoir leur maniere de faire: car faisant le mesme à tous ceux qui les visitent, & principalement à ceux qu'ils n'ont point encor veus: apres qu'ils se sont vn peu ainsi iouez des besongnes d'autruy, ils rapportent & rendent le tout à ceux à qui elles appartiennent" (ibidem).

Idêntica "maneira de fazer" na recepção do visitante encontrei, séculos depois, em Tampiitaua. Queriam saber o meu nome, usar o meu chapéu de palha e tomar minha arma. Eis um trecho do meu diário de 1935, continuando a descrição de viagem dada no primeiro capítulo: "Passamos a andar gritando. Às 12,45 quatro rapazes. Abraços. Tomam nossa bagagem. Marcha forçada com gritos. Exausto, mas não paro. Perto da aldeia nos dão paus por causa dos cães. À 1,10 aldeia. Muita gente e todos os cachorros vão ao nosso encontro. Nós nos dirigimos, primeiro, ao chefe principal. Homens e mulheres me apalpam, passam as mãos sobre a pele branca do meu braço, examinam meus dedos e meus músculos. São especialmente as mulheres que pegam suavemente nos meus braços e nas minhas mãos e não as soltam por muito tempo, olhando-me, rindo, nos olhos enquanto estão sentadas na rede ao lado dos maridos. Todo mundo me pergunta imediatamente pelo nome. Muitos me passam a mão pelo cabelo e um, notando o começo da calvície, diz delicadamente: cabelo pequeno. Outro descobre na minha boca a coroa de ouro e faz questão

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