ray?", "Frederico frio?". A doença tornou-se assunto do dia, os sorrisos corteses desapareceram, havia um vai e vem de caras fechadas. O forasteiro enfermo põe em perigo a comunidade - a história da tribo prova isso sobejamente. Intolerável é o forasteiro enfermo. Eu havia conseguido acalmar os irritados, anteriormente, prometendo-lhes o fim do "cansaço" para o dia seguinte. Mas no decorrer do tempo o meu companheiro piorou de tal forma que passaram-se mais de 24 horas sem que, apesar da Atebrina, conseguisse se levantar. Foi então que o sempre gentil Kamairahó, de repente carrancudo, me disse, meio perguntando e meio constatando: "Amanhã tu vais embora, para bem longe, até a Ilha do Bananal". Manifestava, assim, a vontade de livrar-se de nós. Quando lhe dirigi um olhar surpreso, acrescentou que também Frederico iria embora. "Não", declarei resolutamente, "não vou amanhã". "Todos os tapirapé sabem que vais amanhã", insiste. "Não sei nada disso", digo, fitando-o. Resistiu, sem esforço, ao meu olhar, apressando-se, porém, em assegurar que, embora ele mesmo também não soubesse nada a respeito, todo o mundo estava dizendo isso. "Quem?" pergunto sem rodeios. Kamairahó, confuso, olha ao redor e indica um jovem ocupado em raspar a vara de um arco. Esse, interpelado por mim, sorri amavelmente como de costume, mas, naturalmente, declara não ter falado nada da minha partida. Kamairahó afastou-se. Depois de algum tempo, homens e mulheres me procuram para saber se eu ia deixar a aldeia. A situação é incômoda.
A interrogação insinuantemente feita nessa oportunidade não tinha nada em comum com o que antes me havia revelado o código tapirapé de boas maneiras. Por exemplo, quantas vezes ouvi me perguntarem: "dormiste?", "acordaste?", "estás indo?", "defecaste?", "urinaste?".
Enquanto, aliás, essas locuções formais funcionavam a todo e qualquer instante em todo o grupo local, não havia termos especiais para pedir e agradecer. Quando um tapirapé queria comer um pedaço do veado que o nosso camarada havia caçado, dizia meramente: Eu como veado. E embora ninguém expressasse verbalmente o agradecimento, quase todos retribuíam espontaneamente com generosidade pela comida recebida, por nossos remédios ou por qualquer outra dádiva.
Além das perguntas de praxe e em caráter de cumprimento, fui alvo de outras, de interesse predominantemente acadêmico. Assim, queriam saber se Daniera, o nosso camarada Daniel, seria pajé e se seus sonhos seriam "grandes" ou "pequenos", isto é, se ele, no sono, podia viajar até o Araguaia ou só até uma roça próxima. Indagaram se o quaker na lata de aveia, tendo roupa em abundância, era capitão e se o atleta seminu do rótulo de um fortificante estava indo para o banho. Vendo-me constantemente ocupado com a caderneta de notas, perguntavam se esta seria um objeto para ser posto comigo na sepultura, pergunta muito lógica, do ponto de vista do funeral tapirapé, no qual os mortos levam consigo os seus pertences de maior importância na sua vida. Observando-me medir as suas casas, pediram-me explicação a respeito do metro.
Como aquelas perguntas, que controlavam as atividades das pessoas desde o acordar até o adormecer, não deixavam de ser atos de cortesia,