também o exemplo dos sertanejos recentemente instalados como criadores de gado no território tapirapé, os quais não costumavam oferecer nada ao viandante, fosse ele índio ou branco como nós.
[Ver foto 80 no original]
Foto 80 - Ampitania.
A atitude destes moradores de Porto Velho e de outra localidade que denominaram São João não contrastava apenas com a dos habitantes de Tampiitaua de 1935. Também era muito diferente da que eu tinha encontrado como característica do povo em outras partes do Brasil, tanto nos sertões como nas cidades, fato esse que havia contribuído para eu ver em tal atitude uma herança cultural dos tupinambá e, com o simplismo do principiante em ciências e indiófilo apaixonado, declarar bombasticamente que "a maior parte do caráter do povo brasileiro é o caráter do tupí" (Baldus 7 26).
Quinhentistas frisam bastante a hospitalidade por eles encontrada nas aldeias do litoral. Assim, Léry (278) escreve que "nos Tououpinambaoulis reçoiuent fort humainemêt les estrangers amis qui les vont visiter" e Gabriel Soares de Sousa (384) começa o capítulo "que trata como os tupinambás agasalham os hóspedes" com a frase seguinte: "Quando entra algum hóspede em casa dos tupinambás, logo o dono do lanço da casa onde ele chega, lhe dá a sua rede, e a mulher lhe põe de comer diante..." Entre os tapirapé de 1935, tudo isso era assim.
Krause (2 passim) já não registra dos carajá e caiapó o mesmo empenho em agradar o visitante e chega a afirmar (ib. 324) que os seus remadores carajá passaram fome naquelas aldeias de sua própria tribo nas quais não tinham parentes que lhes dessem alimentos. Eu mesmo, apesar de ter colhido muitas provas da afabilidade desses índios do Araguaia, nunca encontrei entre eles o afã de receber com a generosidade e alegria manifestada coletivamente por ocasião da minha primeira chegada a Tampiitaua. Naturalmente, o isolamento dos tapirapé daquela época contribuiu para conservar tal padrão de comportamento.