do parceiro. Não constatei se aproveitavam este procedimento para se cheirar, nem mesmo quando o meigo e ingênuo brincalhão Etymiana (97), de 18 anos, um belo dia me abraçou e, movendo a cabeça de um lado a outro, me aplicou rindo essa carícia nasal. Aliás, nenhuma representante tapirapé do belo sexo, apesar de todas elas terem sido sempre amáveis comigo, me fez semelhante agrado. Na sua língua, quem o faz poderia dizer de si: achaánchovyn, e do parceiro erechaánchovyn (a: eu; ere: tu). Desconhecida era qualquer espécie de beijo labial.
Fleming (188), que, em 1932, encontrou-se com alguns tapirapé quando viajava pelo rio homônimo, refere que um desses índios se aproximou dele com "sorriso tímido" e esfregou o nariz no dele, inglês. Andree (151-152) estudou a distribuição geográfica da "saudação de nariz" no mundo, assinalando-a entre os lapões e esquimós, na Ásia e na Oceania. Não a menciona, porém, na América do Sul, apesar de Martius já ter contado que, na viagem pelo Japurá, um índio "cauixana", a título de saudação, esfregara a cara pintada de urucu na cara dele, viajante alemão (Spix und Martius 1.216). Em publicação de 1867, Martius (2 I 96), referindo-se a isso, declara ter observado que, "em sinal de saudação amigável e hospitalidade", o dono da casa "esfregou para cá e para lá" ("herumrieb") o rosto também no dos que entraram. Os urubus-kaapor, tribo tupi do estado do Maranhão, conhecem o beijo de nariz, segundo me contou Darcy Ribeiro na V Reunião Brasileira de Antropologia, Belo Horizonte 1961. Na mesma oportunidade, Protásio Frikel me informou sobre a existência deste costume entre os kaxuiana e tiriyó, duas tribos caraíba do estado do Pará.
Além das referidas exteriorizações da afeição e tristeza relacionadas à presença do forasteiro - pois estou convencido de que nas lágrimas de Maräromyó e nos soluços de Pauyngó estavam sentimentos reais por trás do aspecto cerimonial - os tapirapé expressam suas emoções de várias maneiras, nem sempre através de palavras. Cospem fortemente para mostrar nojo, como observei também entre índios do Chaco ao sentirem algum mau cheiro (Baldus 1 147). Quando, em Tampiitaua, abri uma lata de salsichas vienenses, os circunstantes as examinaram cheirando e a seguir cuspiam. Cuspiam, também, quando algum gás (tepyno em tapirapé) escapava de seus intestinos, o que acontecia com frequência entre estes comedores de batata-doce e de outros vegetais produtores de flatulência. A consequência era a representação de pequena farsa, talvez inventada por algum inibido protagonista diante de pessoas presentes, e que agora, já se havia tornado um padrão de comportamento seguido pelos habitantes masculinos da aldeia. Ou funcionava este comportamento só em minha presença? Nas mulheres, aliás, não observei nada de igual, parecendo não terem elas tais problemas explosivos: uma notável diferença de boas maneiras. O farsante, pois, chamando a atenção para o mau cheiro, não se limitava a cuspir com ênfase, mas aplicava ostensivo pontapé no cão mais próximo, atribuindo-lhe, assim, todo o transtorno - sem dúvida um movimento de expressão profundamente chocante para o chamado amigo do homem.