olvido, provavelmente, tem tido por causa o fato de o manuscrito parecer, à primeira vista, uma réplica dos livros já publicados por Thevet. Isso, até certo ponto, é verdade; mas, o mencionado manuscrito contém numerosos capítulos interessantíssimos e totalmente novos. Em particular, as páginas consagradas à antropofagia ritual dos tupinambás podem passar por uma das mais belas descrições, que se possuem de tal costume. Graças ao mencionado descobrimento, pude esclarecer mais de um ponto obscuro referente às ideias dos tupinambás.
Ao lado da obra de Thevet, vem a do missionário português Cardim, cujo tratado sob o título Origem dos índios do Brasilmerece ser classificado de manual dos ritos e costumes dos tupinambás. A quem quiser auscultar profundamente a alma de semelhantes indígenas, a leitura da Viagem de Yves d'Évreux torna-se indispensável. O missionário d'Évreux parece ter dominado, a fundo, a língua de suas ovelhas, por cujas crenças demonstra o mais vivo interesse. Mas, o que empresta ao seu depoimento todo o valor é ter o mesmo, segundo parece, sido reduzido à escrita na própria ocasião dos fatos. Yves d'Évreux propusera-se a converter ao cristianismo, em vez das pessoas comuns, de preferência os feiticeiros e os chefes. E, assim, conta as conversações mantidas com tão importantes personagens, sendo que suas notas devem ter sido tomadas no decurso das entrevistas, ou logo após às mesmas, porquanto conservam ainda o ritmo e a ordem do pensamento dos selvagens. Isso sem falar nas suas inúmeras expressões em língua indígena. Creio que, em toda a antiga literatura concernente aos índios americanos, existam poucas obras onde se revele tão profundo conhecimento da psicologia do primitivo.