Ouro Preto, o homem e a época

do dealbar da nacionalidade, verdadeiros titãs que, com a retina cheia das visões dos fabulosos achados, talaram em todos os sentidos o território brasileiro e foram, assim, promovendo o recuo do meridiano demarcador, constante do tratado de Tordesilhas. Constitui, como se vê, o ciclo bandeirante, epopeia das mais belas que já se escreveram no Continente. É página forte da história nacional, escrita com fé e sangue, com os mais altos requintes do sonho e as mais aberrantes asperezas das trágicas realidades. Página feita com ousadia e desfalecimentos, com esperanças e desolações, com a ânsia de fortuna fácil e as desilusões mais dolorosamente esmagadoras, naqueles tempos de homens tão singularmente obstinados, homens de coragem cabocla, de bravura selvagem. E foi dessa coragem cabocla, dessa bravura selvagem, e da quimera ímpar das pedras e dos metais que resultou o metamorfoseamento do Brasil colônia em Brasil império, de mera povoação inculta, perdida nas fraldas da terra sul-americana, em celeiro de ouro para o Velho Mundo. Uma frase basta para consubstanciar a assertiva. É de Humboldt, e conceitua: "O Brasil deu mais de metade do ouro de toda a América". Equivale isso a dizer que as bandeiras representam o "abre-te, Césamo!" da famosa lenda do Eldorado...

O ciclo, não há negar, é estupendo. Basta recordá-lo em traços largos, em toques sumários, para lhe sentirmos a opulência.

Abre-se logo após a fixação dos primeiros núcleos portugueses ao longo da costa Atlântica. E mais se desenvolve e mais cresce, à medida que as ambições dos navegadores e piratas se vão revelando sobre a "Terra Nova". Era compreensível. Portugal necessitava de outras fontes de produção. O que a Índia lhe vinha rendendo não compensava sequer os gastos com as viagens entre o Oriente

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