Ouro Preto, o homem e a época

E o ouro, a prata e as esmeraldas tornaram-se, por isso, os três fatores decisivos da conquista, da posse e da expansão das terras que configuram o mapa brasileiro. A Serra Branca, serra da Prata, acenara então aos homens com a misteriosa sedução de sua messe. A Serra Verde, serra das Esmeraldas, atraiu-os com o encanto de suas pedras às penetrações da mata inóspita. O Eldorado, rebrilhando gemas alucinadoras no fundo selvoso das Gerais, nos serros impenetrados dos Cataguases, exacerbara a coragem dos mais atilados. A miragem agigantara as esperanças. Desmesurara as aspirações. E todos se sentiram dominados por irresistível impulso para atingir Sabarabuçu, Itabaiana, Jacobina, Vupabuçu.

Começou, então, o imenso desfile, imenso e ininterrupto, de bandeiras sobre bandeiras a penetrarem a terra desconhecida, num peregrinar verdadeiramente incomum na história das conquistas humanas. Animados pelos sonhos de fortuna rápida, homens inúmeros, de gibão de couro, sapatorras de cordovão ou botas altas de bezerro, trabuco à mão, garruchas nos coldres e calumbé ao colo, arcabuz e almocafre ao ombro, e sombreiros, e petrechos rústicos, e demais utensílios - com a sua multidão de arcos e minas, cabos e peões, mamelucos e cafusos, frades e capitães, índios e cargueiros com víveres fartos - abalaram, uns após outros, numa sucessão que hoje nos estarrece, para o ignoto dos sertões fechados, e, erradios, investiram os matagais sem-fim, à procura dos tesouros brancos, dos tesouros verdes, dos tesouros auríficos. Pervagaram, nas suas entradas afoitas, pelas aguadas, pelas barrocas, pelas caatingas, por chapadões, planícies extensas e tremedais traiçoeiros, ora vadeando rios ou furando cerradões, ora subindo montanhas ou descendo ribanceiras, abrindo caminhos, vencendo distâncias, traçando a medida da terra ampla e fecunda, expostos às flechas ervadas, aos

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