com a sua intendência, as suas igrejas, suas quintas, e sítios, e fazendas, e engenhos, cheios de casas coloridas e de seixos rolados, onde se guardavam as burras, as arcas, os almofarizes, as prensas de cunhagem, as canastras revestidas de couro e pregaria, e os cofres de jacarandá...
Foi assim, exatamente assim, que se lançou a semente da Civilização no seio imenso e fecundo da Terra de Santa Cruz.
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Numa dessas investidas é que Ouro Preto foi revelada com a abundância de seus veios auríferos.
Antonio Dias Arzão partiu um dia, de Taubaté, a boca do sertão, no rumo dos Cataguases. Não ia buscar esmeraldas, nem prata, nem ouro, mas única e exclusivamente prear índios. Levara entre os peões um mestiço, homem obscuro, humilde, sem relevo: Duarte Lopes, que já havia estado nas minas de Paranaguá e de Curitiba. Em pleno mataréu acampou. Estavam entre majestosas serranias. No vértice de uma delas, imensa pedra, e, imediatamente abaixo, outra menor. Era o Itacolomi. Cenário soberbo. Duarte Lopes sai a ver o ambiente. E observa, no vale que as divide, um ribeirão serpeante. Lembra-se de que há precisão de água no acampamento e decide-se a ir buscá-la. Encontra, então, uns granitos escuros, granitos cor de aço. Nota-lhes singularidade. São diferentes de todos quantos tem visto em suas marchas pelos ermos da selva híspida. E guarda-os. Acontece que a bandeira, em plena miséria, esfomeada, desprovida, desanimada, se desfaz. Há a dispersão. Cada qual segue o rumo que lhe convém. Arzão, com o organismo minado pela terçã, endireita para o Espírito Santo. Era mais perto. Duarte Lopes retorna a Taubaté, onde submete os grânulos a exame e verifica, com alegria, serem ouro. Ouro puro. Ouro finíssimo. Ouro preto.