Pouco durariam, porém, as vantagens dos paulistas nesses achados formidandos. Não tardou, o ouro tornou-se um bem e um mal. Um bem, porque revelara a grandeza da colônia ao Velho Mundo, compensando os esforços que Portugal fizera para mantê-la. E um mal, porque provocara o êxodo dos homens do centro e do interior de São Paulo, suscitara o abandono dos engenhos e a paralisação das moendas, fê-los desinteressados pelas culturas e os arrebanhou para as Gerais em desenfreiada transmigração, daí sobrevindo o inevitável: a crise. Crise horrenda. Os gêneros, raríssimos, porque ninguém os cultivava, chegaram a preços escorchantes. Manifestou-se a fome. Com a fome, as desinteligências. Com as desinteligências, o estouro, no cenário agreste, entre forasteiros e paulistas, de encarniçada luta onde o trabuco e a foice giraram de todas as formas nas mãos exasperadas dos contendores(17) Nota do Autor.
Página de surpresas, essa das bandeiras! Página caracteristicamente episódica, como bem acentuou Paulo Setubal. Se foi a prata, os que a buscaram morreram sem alcançá-la. As esmeraldas, quando encontradas por Fernão Dias Pais Leme, depois de oito anos de buscas obstinadas, não eram esmeraldas: eram turmalinas. O ouro, aqueles que o descobriram foram, de um momento para outro, despojados de seus direitos. E, mais: Pascoal Moreira, depois da guerra dos Emboabas, caminha para Cuiabá e, tendo descoberto ouro na serra dos Martírios, termina desamparado, maltrapilho, e morre miseravelmente.(18) Nota do Autor