Ouro Preto, o homem e a época

habilitados. Este procedimento não só me penhorou como me encheu de orgulho.

Aconselho-os porém, a não persistirem nessa abstenção e pátria os seus serviços, mormente nas grandes dificuldades que para ela antevejo com a mais profunda tristeza. Assim possam prestar-lhe melhores do que me foi dado consagrar-lhe.

Por último, declaro-lhes que nenhuma tão grata homenagem poderão render à minha memória do que continuando a inspirar-se na dignidade e na honra, a dedicar o costumado consolo à sua mãe e irmãs e a prestar-lhe todo amparo ao seu alcance, vivendo todos na mais perfeita união de família, única verdadeira felicidade neste mundo. Deus que os abençoe a todos"(408) Nota do Autor.

O documento diz o que era o homem que o redigiu. E torna evidente que o visconde não deixara fortuna, senão a que emanava de sua alevantada moral. É sabido, porém, que a falta de bens materiais não o afligia nem o tornava menos inteiriço no fim da vida. Sua ambição foi outra, muito diversa da riqueza material: foi a de viver digna, honrada, independentemente. E jamais abandonou essa concepção, que encontra a sua mais eloquente e frisante exemplificação na recusa por ele dada ao general Couto de Magalhães, ao pretender este ilustre militar, que fora o último presidente de S. Paulo no regime monárquico, deixar-lhe toda a fortuna que possuía, avultada e sólida. Já o tabelião Evaristo de Barros estava incumbido de lavrar o instrumento, quando Ouro Preto, ao saber de suas intenções, foi demovê-lo de seu intento, a custo conseguindo, enfim, instituísse o general como legatário de quase todos os seus bens um filho natural, a que por lei não pudera reconhecer(409) Nota do Autor.

Esta é mais uma face de sua personalidade e de seu desprendimento.

Ouro Preto, o homem e a época - Página 437 - Thumb Visualização
Formato
Texto