Ouro Preto, o homem e a época

Em 1909 presidiu às sessões do Congresso Católico realizado em Petrópolis. E, no ano seguinte, a 2 de janeiro, tendo os bacharelandos feito recair nele a preferência para paraninfar a sua turma, coube-lhe proferir um discursa que é um verdadeiro primor pela conceituação e pela firmeza de suas ideias. O ambiente e a assistência comportavam, aliás, o voo seguro e largo das suas palavras. A cerimônia realizou-se no salão de honra do Externato D. Pedro II, à tarde, e contou com a presença de Nilo Peçanha, presidente da República, de todos os membros de suas casas civil e militar, de vários ministros, e do grande adversário de outrora, já com ele reconciliado, Ruy Barbosa. Disse então:

"Meus jovens colegas e amigos.

Neste lance triunfal de vossa existência, nesta culminância da vossa carreira escolar quisestes vos falasse, em vez de uma voz forte e fecunda, a palavra esmorecida do mais velho dos vossos lentes, daquele que nas galas desta solenidade, onde tudo desperta esperanças, mais evoca o passado, isto é, a saudade, a desilusão.

Patenteia a escolha que fizestes a vossa indulgência e cavalheirismo; demonstra o vosso acatamento para com as cans, não muito comuns no meio da irreverência moderna; encarece, por outro lado, a simpatia e o recolhimento em mim despertados pela distinção recebida.

Preponderou, talvez, em vosso propósito, a consideração de que, sendo o Direito a vida, conforme alguém o definiu, quem mais houvesse vivido, melhor sobre ele poderia exprimir-se.

Assim é, até certo ponto. No meio dos variáveis acidentes de extenso percurso durante o qual, como é próprio da contingência humana, abundaram espetáculos de prepotência, falsos juízos, violação das leis, iniquidades, nunca me abandonou, antes cada dia mais se me fortaleceu, a fé nas normas jurídicas, convicção de que na aplicação delas está a salvação, a prosperidade, a glória do homem e das sociedades.

Ouro Preto, o homem e a época - Página 438 - Thumb Visualização
Formato
Texto