Uma porta sempre aberta fazia comunicar essa entrada com a grande sala de jantar, ornada de quadros a óleo, um espelho, um grupo de couro, cadeiras de balanço, etc... Duas janelas e uma porta abriam para um pátio interior onde floria lindo pé de manacá. Era nesta sala de jantar, onde todos os domingos se reunia a família no jantar obrigatório, que Vovô Celso mais tinha contato com a miuçalha dos netos. É aí que mais o recordo, descido das esferas olímpicas em que o imaginávamos, simples, afável, familiar, accessível. A cabeça prateada recoberta sempre do indefectível bonnet de alpaca preta, de pince-nez, o porte instintivamente altaneiro, dando-lhe mais altura do que tinha realmente, era um chefe, na mais inata expressão da palavra. Emanava dele, mesmo quando brincava e gracejava, instintiva autoridade. De temperamento alegre, aliás, não obstante a natural seriedade, com uma ponta de "humor", muito pronunciada, que o levava a rir malgrado ele próprio, quando uma resposta mesmo impertinente tinha a sorte de ser espirituosa. Para conosco, os netos, era exigente no cumprimento do dever, o que se resumia em estudarem direito, os rapazes, e terem "modos" as meninas. Não dispensava lhe tomarmos a bênção, quando o víamos pela manhã. À noite à hora de deitar e quando se acendia o grande lustre a gás da sala de jantar, o que sucedia geralmente à sobremesa, pois jantava-se muito cedo naquela época, 5h30min, seis horas no mais tardar. De gênio muito sociável, gostava de ter a casa cheia, recebendo a todos com extrema cortesia, embora de maneiras um pouco distantes. Não havia luxo no seu lar, mas simplesmente aquela tradicional largueza da casa brasileira onde existia sempre o quarto de hospede e dois ou três convivas a mais nas refeições. Cercava-o, todavia, tal aura de respeito que só velhos companheiros de S. Paulo o tratavam realmente sem cerimônia. Impunha, sem que o quisesse, a todos