O Barão de Iguape; um empresário da época da Independência

do barão e dono do acervo, foi o interesse da Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, que no caso eu representava, em socorrer-se da admirável coleção iconográfica de Chaves para a publicação que projetava. O projeto, que teve sua solícita aquiescência, seria sacrificado, quando a Comissão, devendo atender a compromissos já assumidos, mas dependentes de maiores facilidades cambiais que, ao cabo, não foram concedidas pelo governo federal, precisou sujeitar a cortes substanciais a verba de que dispunha. Das conversas que tivemos, então, saiu a lembrança, porém, de facilitar-se de algum modo o acesso dos nossos estudiosos de história econômica a um documentário talvez único no Brasil como o são os papéis do barão de Iguape.

Nesse sentido, a primeira ideia surgida de sua publicação integral pelo Museu Paulista mostrou-se praticamente inviável. Mesmo para uma instituição oficial, que não visava a fins lucrativos, haveria de parecer pelo menos original, mas não no bom sentido da palavra, a divulgação dos negócios particulares de um capitalista, ocorridos ao longo de 65 anos, a partir de 1810, abrangendo então 29 ou 30 volumes compactos e de formato grande. A escassa repercussão obtida em nossos dias pela correspondência comercial de um negociante português do século XVIII, que o historiador Luís Lisanti reuniu e admiravelmente comentou, e o Ministério da Fazenda publicou em cinco volumes, com o título de Negócios coloniais, deixa poucas ilusões sobre o sucesso que poderia aguardar uma iniciativa bem mais ambiciosa. Quanto ao documentário do barão de Iguape, a alternativa de uma seleção reclamava aturado estudo prévio e, naturalmente, sobras de tempo de que não dispúnhamos nem eu nem os possíveis colaboradores. Além disso, devendo ausentar-me do país, e a ausência duraria mais de dois anos, ficou adiado o exame dessa solução, que não se deu, em parte devido ao falecimento de Jorge Chaves.

Algum tempo mais tarde, o interesse que mostrava Maria Thereza Schorer Petrone, assistente da cadeira então sob minha responsabilidade, de História da Civilização Brasileira, da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo, pelos estudos de história empresarial, surgidos, sobretudo nos Estados Unidos, desde a fundação, em Harvard, do Research Center in Entrepreneurial History, preparados por Arthur H. Cole com a ajuda de Schumpeter, Gershenkron e outros, levou-me a pensar de novo no assunto. A curiosidade e a capacidade reveladas por minha auxiliar para os estudos de história econômica que iniciou em São Paulo e desenvolveu em Munique, pareciam proporcionar

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