bom meio de utilização dos papéis do barão na tese de doutoramento que devia preparar. Tanto mais quanto me cabia, por dever de ofício, orientá-la nessa etapa de sua carreira universitária. Aceito de bom grado, meu alvitre teve entretanto de ser abandonado. O dono dos papéis legou-os em testamento ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e, como estivessem os bens ainda em inventário, não era possível consultá-los no momento, de sorte que a doutoranda passou a outro tema, o da atividade econômica responsável por uma profunda transformação da lavoura paulista, que permitiu a formação de uma infraestrutura para a implantação dos cafezais do Oeste. O resultado foi a obra verdadeiramente pioneira que dedicou à Lavoura canavieira em São Paulo: expansão e declínio (1765-1851), e que lhe permitiu conquistar brilhantemente o doutorado.
Só quando já estava para concluir a elaboração da tese chegaram finalmente a seu destino os papéis do barão de Iguape. Entre as múltiplas atividades a que este se dedicou ao regressar, em 1816, do sertão da Bahia, após refazer ali o cabedal que havia perdido nas minas de Cuiabá e de Goiás, dificilmente faltariam os negócios do açúcar, agora em franca expansão na capitania. De fato, assim como Prado passara de arrematante de impostos (subsídio literário, sisas, meias sisas, dízimos de Curitiba, Lajes, São José dos Pinhais), especialmente dos impostos sobre os animais em trânsito para Sorocaba para o comércio de gado, onde teve como sócio outro homem de negócios, nascido no Rio Grande do Sul, mas estabelecido em São Paulo, João da Silva Machado, futuro barão de Antonina, também de negociante de açúcar passou, por algum tempo, a lavrador de açúcar e "engenheiro", que é como se designavam, em São Paulo, os senhores de engenho. Foi esta, no entanto, uma experiência à margem das suas outras atividades, e durou poucos anos. Prestava-se, contudo, à elaboração de um "estudo de caso" a ser anexado à tese, e assim foi feito. O estudo não está reproduzido no livro que dessa tese resultou e que a Difel editou em 1968, mas foi impresso nos nºs 73, 76 (1968) e 79 (1969) da Revista de História.
A atuação do personagem principal deste livro num meio ainda mofino como o de São Paulo, pelo ano de 1816 — ele mesmo se dizia saudoso dos negócios de algodão a que se dedicara na Bahia, e confessava: "aqui não há em que se ganhe dinheiro" — é das que ajudam a desmontar o mito obstinado da avassaladora preeminência agrária na formação brasileira. À custa de um esforço continuado, de um raciocínio sempre alerta,