O Barão de Iguape; um empresário da época da Independência

Oliveira, em seu tratado da nobreza e fidalguia, publicado em 1804: "basta o grau para brotar o predicado da Nobreza", diz textualmente. E o grau pode ser de simples licenciado.

Para mostrar a importância do comerciante nos inícios do Brasil independente, já me sucedeu lembrar, em outra ocasião, como até a baronesa de São Salvador de Campos dos Goitacases, baronesa já ao tempo do rei velho, pois teve o título em 1812, figura no corpo do comércio da Corte, com seu estabelecimento de vidros e quinquilharias à rua da Glória, ao mesmo tempo em que é dama da Imperatriz. A mesma baronesa foi, além disso, sogra do intendente-geral de polícia da Corte, falecido pouco antes da Independência, Paulo Fernandes Viana, também pertencente, aliás, ao corpo do comércio. Por esse lado seria avó da futura duquesa de Caxias. Não é sem interesse notar que a futura viscondessa do Rio Branco e a duquesa de Caxias se tratavam habitualmente de primas. O visconde do Rio Branco era filho, aliás, de negociante da Bahia e casou com filha de negociante do Rio de Janeiro. Se Araújo Lima, por exemplo, ou Holanda Cavalcanti vinha da grande lavoura — mas a grande lavoura comercial já não é por definição uma atividade mercantil? —, por conseguinte à "nobreza" da terra, nobreza que a legislação do Reino jamais reconheceu, dado que, segundo os praxistas mais autorizados, a agricultura, mesmo se exercida em solo próprio, não dá nobreza a quem a não tem, nem tira a quem a tem, sendo exercício neutral e indiferente.

Não parece escusado lembrar a importância crescente que os homens saídos do comércio tiveram nas províncias mais prósperas, talvez ainda mais do que no Rio de Janeiro, onde a presença de muitos fidalgos chegados com a Corte portuguesa seria obstáculo ao emprego de arrivistas locais em postos que esses mesmos fidalgos ocupavam ou ambicionavam. Para a Bahia, o assunto foi bem abordado em notável estudo do historiador inglês Russel-Wood, baseado nos livros da Misericórdia do Salvador, onde se mostra como, desde meados do século VIII, a tradicional eminência conferida à "aristocracia" rural do Recôncavo começa a ser substituída pelos magnatas do comércio urbano, que outrora ocupavam na sociedade uma posição ambígua, quando menos, e insegura. Em Minas Gerais, a ascensão de negociantes e mesmo de simples mercadores e tendeiros se inicia bem cedo, despertando a iracúndia de tradicionalistas tais como o autor das Cartas chilenas, que, adverso, embora, ao predomínio da gente de subida linhagem, quer todas as vantagens para a nobreza togada. A

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