O Barão de Iguape; um empresário da época da Independência

malquerenças e ciúmes pessoais. Quando muito poderia prender-se a dissensões entre o chamado "partido português" e os brasileiros, ligados aos Andradas, e com os quais D. Pedro andava agora de mãos dadas. Sucede apenas que a atitude das Cortes, ainda que liberal em Portugal, era prepotente no trato das coisas do Brasil, e aos brasileiros não parecia difícil confundir prepotência com absolutismo.

Para o coronel Prado, paulista, filho e neto de paulistas, que então se liga à facção andradina, o trato mercantil não significaria assim desinteresse pela vida política. Política e negócios andam constantemente ligados ao senso do oportuno, que pode requerer certa versatilidade. Assim, o andradista de 1822 se tornará federalista, quer dizer, radical, em 1832, e conservador, em 1842. Conservador como seu sócio João da Silva Machado, o que, aliás, não é de admirar, mas também como Costa Carvalho, agora barão e enfim marquês de Monte Alegre, o que já é admirável, por se tratar de antigo parcial de Francisco Inácio, de quem se tornou contraparente. No outro lado, o lado liberal, milita grande parte da parentela de Francisco Inácio e, morto que já era José Bonifácio, seus irmãos Antônio Carlos e o próprio Martim Francisco, alvo dos ódios da bernarda 20 anos antes.

O entrelace de política e negócios é frequente, aliás, no Brasil, e se torna visível já no Primeiro Reinado. Para começar, os mesmos Andradas vinculam-se ao comércio por intermédio do pai, Bonifácio José, que nos Maços de População da Vila de Santos se registra modestamente como "mercador", nome ligado a um exercício que, segundo a praxe lusitana, derroga a nobreza, mesmo a quem a tenha de nascença. Pouco importa que o avô, José Ribeiro de Andrada, tivesse sido magistrado e que o mesmo Bonifácio José fosse pessoa abastada, de abastança que aparentemente adquiriu, como outros paulistas do tempo, no comércio de Cuiabá. Também importa pouco o poder gloriar-se de algum avoengo fidalgo: o mesmo acontecia a um sem-número de indivíduos que, nem por isso, deixavam de ser de "segunda condição". É sabido como Antônio Carlos, ao depor perante os juízes da alçada, se defendeu da parte que teve na república pernambucana de 1817, aludindo à "ordem da nobreza a que pertencia". Ditas embora sob coação, essas expressões não indicam uma pretensão injustificável do antigo ouvidor de Olinda, dado que em Portugal o grau acadêmico era suficiente para nobilitar. Para alguns entendia-se isto especialmente como os "doutores lentes", mas a última palavra a respeito deu-a o conhecido praxista Luís da Silva Pereira

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