Poder local na República Velha

detentores do poder público da esfera federal, e mais diretamente os da estadual, na dependência dos votos, não da massa dos votantes que, no exercício da opção que a nova situação exigia, não esboçavam sequer vislumbre de consciência, pois para tanto careciam de uma relativa independência econômica que não tinham, mas na dos proprietários rurais, a quem aquela massa pertencia de corpo e alma. Na República, as qualificações eleitorais, necessárias sob o Império, foram substituídas "pelo requisito da alfabetização, com isso expandindo-se sobremaneira o eleitorado".(4) Nota do Autor

De outro lado, as comunidades interioranas — é nos municípios que o fenômeno "coronelismo" se exercita —, carentes de autonomia financeira, em tudo dependiam do governo do Estado que, por sua vez, em nada beneficiava o município a não ser pelas mãos do chefe político governista local que, frequentemente era o "Coronel" ou um seu aliado e dependente. Na ocasião, em Araraquara, o chefe político era o próprio "Coronel", que tinha como intermediário junto ao governo do Estado, na concretização de acordos e obtenção de benefícios, um bacharel, seu genro.

Aí está delineado o mecanismo de proveitos recíprocos através do qual se processava a perpetuidade no poder: os detentores do mando estadual tinham os votos garantidos pelo "Coronel" que, em troca, via assegurada a sua supremacia no Município — que, por sua vez, só através dele se beneficiava dos recursos dos cofres estaduais.

O fenômeno "coronelista" não era novo no cenário brasileiro. "Nova será sua coloração estadualista e sua emancipação no agrarismo republicano, mais liberto das peias e das dependências econômicas do patrimonialismo central do Império."(5) Nota do Autor

Na prática, a concretização do compromisso pelas partes se fazia por procedimentos, providências e recursos os mais variados. O governo estadual tornava o "Coronel" credor de tudo perante todos na sua comunidade. Da nomeação de empregados públicos — particularmente o delegado de Polícia e o promotor público(6) Nota do Autor

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