Poder local na República Velha

particular, o comportamento de Plínio por quase 15 anos na chefia do Executivo, foram dois fatores que contribuíram decididamente para manter bem viva a lembrança dos acontecimentos de 1897.

Uma intensa repressão, pretendendo apagar os episódios da memória popular, acabaria por fortalecer exatamente o oposto, ou seja, garantiria a perpetuidade da lembrança.

À cidade ficaria um estigma, o de "Linchaquara", e ao seu povo, uma mística, a dos "santos Britos", alvos da maior devoção, justamente das camadas da população que, pela sua posição nas relações de produção, neles se identificaram e no seu martírio veem projetada a sua própria condição, mesmo que inconscientemente.

b - Um estigma: "Linchaquara"

Contava Pio Lourenço Correia, um dos jurados do julgamento do Dr. Teodoro, que, estando em Buenos Aires, no ano de 1900, teve oportunidade de esclarecer um casal sobre como os fatos de 1897 haviam-se dado, pois o juízo que faziam de Araraquara era que homens e mulheres, toda a cidade, havia participado dos "festejos noturnos".

Viajando pelo sertão de Minas Gerais, um antigo morador de Araraquara, ao chegar numa pousada, despertou atenção das pessoas presentes, ao dizer que era de Araraquara, e o dono negou-se a atendê-lo, dizendo que "não abrigava gente de 'Linchaquara'", tendo recebido a solidariedade de todos os que se encontravam no recinto, ao dizer que era parente dos linchados. No interior de Mato Grosso, a mesma pessoa ouviu, entre violeiros, os seguintes versos:

"Veja o povo de Araraquara

Êta povo marvado

Lincharo tio e sobrinho

Quando um só era curpado".(9) Nota do Autor

Para que o estigma "Linchaquara" se consolidasse, parece ter contribuído um antecedente cronologicamente pouco distante de 1897 e que teve pouca repercussão em relação ao assassínio dos dois sergipanos. Trata-se do assalto à cadeia, no dia 10 de novembro

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