Poder local na República Velha

o chefe do Executivo, sequer pela mais amena crítica aos serviços municipais.

Esse comportamento de Plínio faria com que, com o tempo, o seu nome fosse ligado às violências de 1897, apesar de completamente alheio a elas, pois era criança na ocasião. Governando num período em que a turbulência continuou sendo a tônica da vida política nacional, marcada pela cabala, pela fraude, pelos "currais de eleitores", pelo "voto de cabresto", enfim, na vigência de uma imensa gama de odiosos instrumentos de coação sobre a massa de votantes, para a manutenção do poder, o nome de Plínio seria evocado pelos adversários como o continuador da trajetória de violências da família e, no consenso popular, apontado como herdeiro da "nódoa" dos Carvalhos.

Plínio, que no fim da década de 20 acumulava o cargo de deputado estadual com o de Prefeito, pouco antes de sua queda em 1930, seria alvo de contundentes ataques numa reportagem em manchete de primeira folha do jornal O Combate, da capital do Estado — que é bem ilustrativa das ligações que os adversários procuravam estabelecer entre o seu nome e os fatos de 1897 sob o título "A Araraquara dos linchamentos — o que lembra, para a vergonha da nossa civilização, a data de hoje". A data era 7 de fevereiro de 1929, 32 anos após a morte dos Britos, dia em que "as velas e as flores de um cemitério são o grito de um povo contra o horror de um crime e contra os homens que continuam a praticar uma política de ódios".

A reportagem era ilustrada com fotos de Manuel e Rosendo de Brito, de Plínio de Carvalho e do Vice-Prefeito José Campos de Almeida. Araraquara era apresentada como esquecida pelo poder divino, "conhecida pela celebridade conquistada com os esforços da incansável família Carvalho, que lhe transformou o nome em 'Linchaquara' (...) dominada hoje por alguns criminosos e asquerosos capangas (...) pedaço da África selvagem (...) no coração do Estado de São Paulo, tendo como Zulu da tribo o deputado Plínio de Carvalho". O 7 de fevereiro, aniversário da morte de Rosendo e Manuel, era pretexto para evocar acontecimento de um ano antes, quando o "Zulu (...), sentindo reviver no coração a audácia daqueles sentimentos fraternais de há 31 anos passados (...) ordenou que se levasse a efeito nesta cidade a tentativa de linchamento de que foi vítima o distinto moço Dr. Joviro Gonçalves Foz (...) praticado pelos famigerados capangas do herói de mil façanhas."

De um modo geral, os ódios alimentados pela aspereza da luta política travada nos primeiros anos do século e, de um modo

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