Poder local na República Velha

de imprensa, é fácil adivinhar a influência do único meio de comunicação de massa sobre a opinião pública.

Adicione-se, a essas, uma outra razão de ordem menos direta, mas nem por isso de influência menos considerável na repercussão dos crimes. A substância do fenômeno "coronelista" é a mesma em qualquer parte do Brasil, mas "nuances e características regionais explicam diferenças de comportamento". Nos Estados mais adiantados o individual e o coletivo se equilibram pela preponderância do partido sobre as famílias oligárquicas, que predominam nos Estados mais pobres, com indiscutível primazia dos interesses individuais, no sentido de grupo ou família local.(11) Nota do Autor

Ora, sendo São Paulo o Estado de maior poderio econômico, em decorrência, aí estaria o PR mais forte, agindo como poderosa força disciplinadora, submetendo os interesses individuais aos coletivos (partidários). Daí os interesses de que o caso tivesse um processo tanto quanto possível regular e um desfecho sob a tutela da Justiça, a fim de que o partido ficasse resguardado e sofresse o menor desgaste possível, o que, em regiões mais atrasadas — mais distantes dos centros de decisões e sob o domínio de interesses familiares — certamente não ocorreria, pelo seccionamento do processo numa das fases iniciais, mais certamente já no inquérito policial.

Finalmente, parece-nos oportuno, para estabelecer uma distinção, retomar a afirmação do Professor Edgard Carone, de que, não obstante a essência do problema ser a mesma, o fenômeno "coronelista" apresenta conotações diversas conforme a região do país. No Centro, no Norte, no Nordeste, nos seus imensos latifúndios, o "Coronel" assume uma série de funções, havendo desde os que cunham dinheiro até os que mantêm cadeia e forças armadas melhor aparelhadas do que as oficiais. São, enfim, verdadeiros homens-instituições, enfeixando nas mãos, pelo exercício direto ou pelo comando indireto, mas sempre sob seu controle, funções executivas, legislativas, judiciárias, religiosas, financeiras, etc. Isso em decorrência daquele isolamento e da rarefação do poder governamental.

Esses fatores, mais a ausência da supremacia do partido como "órgão regulador de atitudes", explicam o maior número de soluções de disputas políticas pela violência nas regiões menos desenvolvidas do país. Naquela proposição inicial de tentar identificar, no caso em estudo, as facetas do fenômeno "coronelista", queremos

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