cadernos, caprichosamente organizados, na excelente caligrafia de que se orgulhava. Estão no seu museu algumas dezenas desses cadernos. Os primeiros datam exatamente desse ano vago que parece ter sido o de maior intensidade nas leituras de clássicos e de juristas.(8) Nota do Autor A pequena biblioteca médica paterna também foi atacada. Até bem tarde na vida, os facultativos se espantavam com as referências inesperadas de Rui a autores clássicos de ciências naturais. Isto vai explicar seus longos colóquios e sua intimidade, muitos anos depois, com um grande conterrâneo dotado do mesmo gosto pelos clássicos apesar de dedicado às ciências médicas: Francisco de Castro.
O Curso Jurídico
Só havia no Brasil, até a República, duas faculdades de Direito: a do Recife e a de São Paulo. As taxas não eram fortes. Para os estudantes ali residentes o custo do ensino não era elevado. Mas para os que residiam longe havia a despesa de transporte e permanência numa cidade estranha. Os estudantes passaram a residir em conjunto, nas famosas repúblicas, nome já consagrado em Portugal e que são um característico da vida acadêmica daqueles tempos. As duas faculdades tinham feição própria. O currículo era o mesmo, e os professores escolhidos sem preferência de região. Mas a de Pernambuco tomou uma feição caracteristicamente filosófica. É dela que, poucos anos mais tarde, partirá um movimento que em nossa história das ideias se denomina Escola do Recife. Este sério movimento tem como mestre principal a figura do professor Tobias Barreto, mestiço sergipano, que exatamente nesse momento era um simples estudante. A Faculdade de São Paulo tomou feição mais prática, mais jurídica. É preciso lembrar que não havia naquele tempo faculdade de filosofia e letras. Os alunos do Colégio Pedro II, terminado o currículo preparatório para as escolas superiores, podiam fazer um curso suplementar, com grego e ciências, recebendo o título de bacharel em letras. Mas eram poucos e o curso muito restrito. De modo que as Faculdades de Direito e de Medicina e a velha Escola Central (que em 1874 se desdobrara em Escola Militar e Escola Politécnica) recebiam toda a futura intelligentzia brasileira, ávida de cultura geral. Muitos se formaram em medicina sem nenhuma vocação médica, apenas porque tinham gosto pelas