A oposição
Rui aprendeu, então, na lição da adversidade, o que era a dura posição de partido vencido no nosso parlamentarismo indígena. As influências aqui eram outras. O chefe liberal a que João Barbosa servia, e que estendeu facilmente sua simpatia ao jovem bacharel, era o conselheiro Manuel Pinto de Sousa Dantas, futuro senador do Império e conselheiro de Estado.
O ambiente era de oposicionismo, mas não de revolta. Os chefes liberais aceitavam as regras do jogo e esperavam a vez, na gangorra do poder. Não se falava em República. O próprio Rui passou a colaborar no jornal do partido, o Diário da Bahia, onde se trabalhava de graça e ainda se contribuía para as despesas, porque jornal de oposição não tinha direito a publicações oficiais nem mesmo a anúncios de empresas bafejadas pelo governo. A austeridade que o ostracismo político impunha às figuras com que Rui lidava, Dantas, Saraiva, Leão Veloso, deram-lhe uma imagem diferente do mundo político, que afinal não era assim tão corrupto e ineficiente como pensava a nova geração. As cartas a Bernardino Pamplona, que insistia pela publicação do Manifesto Republicano, vão-se espaçando. Os esforços de João Barbosa no sentido de conter os excessos assustadores do filho no meio acadêmico de São Paulo (sem muita autoridade, porque ele próprio fora revolucionário na mocidade), foram coroados de êxito. Rui escrevia agora artigos de feição rigorosamente britânica, citando Brougham e Junius, Burke e Gladstone. Há até umas referências um tanto irônicas aos ideais republicanos, inteiramente secundários em face dos problemas prementes que são a eleição direta, a liberdade religiosa (pois os conflitos com os bispos começam a dar sinais de aproximação) e a federação, ideal que o jornal e a ala do partido de que ele é órgão aceitam plenamente.
Em 1874 um filho do conselheiro Dantas foi à Europa: Rodolfo, exatamente aquele a que Rui mais se ligaria pelas suas afinidades políticas e sentimentais. Dantas não era homem rico. Mas dispondo de grande prestígio pessoal e ocupando boas posições, fizera sua carreira política na base das relações e da simpatia. Sua casa estava sempre aberta e cheia de amigos. O traço característico da família era a simpatia e a cordialidade. Pouco a pouco, apesar do gênio retraído e desconfiado, Rui Barbosa foi sendo conquistado. Em breve ele estava incorporado à família Dantas, e Rodolfo se tornou amigo tão íntimo que eram chamados na Bahia de irmãos siameses. Trabalhavam juntos na redação do Diário da Bahia e no escritório de advocacia. Essa viagem à