À sombra de Rui Barbosa

No seio desta família Rui se sentiu em casa. Estreitou os velhos laços de amizade, revelou-se na intimidade uma excelente companhia para os serões antigos, que compreendiam números de música, de declamação e, muitas vezes, simples leitura de livros da moda, em português ou francês.

Com Jacobina especialmente, Rui estabeleceu um contato bastante íntimo. Ele passara do liberalismo de Otaviano para o republicanismo de Campos Sales e Glicério, com os quais convivera em Campinas. Morava em casa contígua ao sogro. Tinha uma imensa biblioteca. Seria, mais tarde, compadre de Rui.

Este permaneceu pouco tempo no Rio, onde trabalhou no escritório de um famoso advogado, o visconde de Sousa Carvalho, e se enfronhou na vida forense da Corte. Nessa ocasião pronunciou no Grande Oriente do Vale dos Beneditinos, em que era grão-mestre seu velho amigo Saldanha Marinho, um violento discurso sobre o conflito entre o Estado e a Igreja, tomando posição extremada, atacando ao mesmo tempo o Governo e a Santa Sé, a Coroa e os bispos, e defendendo a mais completa separação entre o Estado e a Igreja. O discurso causou sensação e desgosto no velho Albino, que se apavorou com as ideias do primo e lhe repetia sempre: "Seu Rui, talento não é juízo!"

Mais sensação ainda causaria a bomba que Rui conduzia na bagagem: a tradução de um livro terrível contra a Santa Sé, de autoria de um dos grandes teólogos do tempo, I. von Doellinger, que se afastara da Igreja por ocasião do I Concílio do Vaticano. O livro chamava-se O Papa e o concílio. Rui adicionou-lhe um prefácio, maior que o próprio livro, aplicando os seus conceitos ao caso brasileiro.(14) Nota do Autor

Saldanha Marinho garantiu o apoio da maçonaria para a venda da edição. Animado, Rui contratou a impressão com uma tipografia carioca. Temendo que a publicação do livro, posto no índex em sua versão original, lhe criasse complicações para o casamento, resolveu ir à Bahia, onde um padre liberal lhe facilitou os papéis e casou-se, sem bulha nem matinada. Em pouco estava no Rio para passar a lua de mel. O Dr. Salustiano Souto, velho amigo da família, adiantou-lhe algum dinheiro, e ele pôde dar-se ao luxo de uma temporada em Friburgo, aliás empanada por uma infecção tífica que lhe assaltou no fim de certo tempo. Acresce que a edição do livro, em vez de vantagens, resultou em terrível prejuízo.

À sombra de Rui Barbosa - Página 25 - Thumb Visualização
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