À sombra de Rui Barbosa

estrutura da sociedade. Por outro lado o Imperador, menos comprometido que os políticos com as estruturas sociais, tinha como ponto básico de sua formação um respeito religioso à letra da Constituição. Por causa desse modo de ver, fora inflexível no conflito com os bispos, tão fácil de solucionar sem o artigo 102, n.º XIV, que dava ao Poder Executivo o controle da ação da Igreja. O Imperador, sem opor um veto decisivo ao reformismo amplo, - o que seria contrário ao papel de soberano à moda inglesa, que ele se esforçava por representar - via com má vontade o abandono das normas escritas da Carta de 25 de março.

Sinimbu optou, assim, pela reforma constitucional, mas reforma dentro dos princípios vigentes, tal como se fizera entre 1832 e 1834. Isto significava um longo processo legislativo. A Câmara votaria um plano de reforma que submeteria ao Senado. Uma vez obtida a aquiescência deste, a Câmara seria dissolvida (e neste ponto se pouparia o biênio que a Regência não pôde evitar porque não dispunha de poderes para a dissolução) e uma nova Câmara rediscutiria e votaria a reforma sem participação do Senado. Vários obstáculos surgiam, pois, no início de uma situação que se anunciava tão promissora: o espírito de sacrifício da Câmara, ao votar unia lei preparatória que acarretaria sua própria dissolução; aquiescência do Senado em participar de uma reforma em cuja votação final ele não concorreria, e, afinal, nova campanha eleitoral, já com as primeiras dissidências fatalmente em curso.

O partido aceitou disciplinadamente a decisão partidária, e Rui Barbosa, eleito deputado, veio para a Corte disposto a defender os dois pontos decididos pela alta direção partidária: justificação da dissolução da Câmara conservadora e reforma eleitoral mediante a reforma constitucional.

Sua presença na Câmara foi logo notada. A fama de orador na Assembleia baiana e de jornalista se espalhou por todas as secções do partido. A bancada baiana, toda liberal, compreendia o seu chefe Sousa Dantas. Havendo duas vagas no Senado, porém, foram para elas escolhidos Dantas e Leão Veloso. Na vaga do primeiro, entrou como suplente o filho, Rodolfo. De modo que Rui se sentou ao lado de seu companheiro no Diário da Bahia e seu confidente dos problemas da mocidade.

Sua primeira intervenção na Câmara foi, como recomendava seu experimentado correligionário Martinho Campos, uma simples questão de ordem, para aprender a empostar a voz no recinto, aliás de excelente acústica, que era o da Cadeia Velha. Seu primeiro discurso, o clássico maiden speech, foi em 16 de janeiro

À sombra de Rui Barbosa - Página 28 - Thumb Visualização
Formato
Texto
Marcadores da Obra