À sombra de Rui Barbosa

E que discursos! Verdadeiros tratados sobre o assunto, obras exaustivas, edifícios maciços e colossais! [...]

A forma, mais que correta, burilada, com luxos de classicismo e termos raros, sempre literária e nobre, dir-se-ia esmeradamente trabalhada. Afirmava-se, por isso, que Rui escrevia suas arengas e, confiando-as à portentosa memória, reproduzia-as, sem mudanças de uma sílaba. Não creio. Muita vez ele atendia às interrupções, não dando à resposta o jeito de diálogo, mas inserindo-a no corpo da oração que inalterável e infindável prosseguia. (15) Nota do Autor

A Revista Ilustrada de Angelo Agostini fixou numa caricatura este conceito de Afonso Celso: um boneco de corda com a inscrição: "Corda garantida por vinte e quatro horas. Privilegiado pelo Governo Imperial".

Em breve, porém, coube a Rui um combate de imensa responsabilidade. Com poucos meses de existência, o Gabinete sofreu uma primeira perda séria com a saída do ministro da Fazenda. Tratava-se de uma das maiores personalidades, não só do partido, mas ainda do país, nada menos que o maior orador parlamentar do Brasil: Gaspar Silveira Martins. Quais os motivos desta primeira cisão, será muito difícil dizer. Mas o fato é que o grande tribuno, não somente deixou o gabinete, como imediatamente, em nome de uma dissidência, lançou uma interpelação ao chefe do Governo, a propósito da falência de um banco, de cuja diretoria ele fazia parte. No mérito da questão, Rui achava que Silveira Martins estava certo. Mas o gabinete, após entender-se com Dantas, escalou Rui Barbosa para responder a Silveira Martins. Rui tentou fugir à incumbência, mas Dantas achou que era uma missão a que ele não podia esquivar-se. Rui estava então fazendo sua prova como partidário e cumpriu a missão galhardamente. Havia um ponto fraco na posição de Gaspar. Era sua situação moral. Companheiro de Sinimbu na véspera, homem de sua confiança na pasta de maior responsabilidade, a tal ponto que a maioria dos primeiros-ministros a assumiam conjuntamente com a chefia do Gabinete, conhecedor, ao tempo de ministro, dos fatos em questão, arvorava-se Gaspar em censor do líder da véspera. A verdade é que a personalidade e a capacidade de Gaspar eram de muito superiores às do ex-chefe. Mas isto ele não poderia dizer que era a mola de sua deselegante atitude. Dotado de um poder oratório extraordinário e forrado

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