exigidas por certos setores, ao lado de numerosas e muito mais poderosas forças sociais subjacentes.
Ora, dentro do ambiente social em que se formou e atuou, Rui, por intermédio de seus magistrais "Pareceres", soube encarnar o espírito e os métodos de pensar e agir que a classe média, constituída de pequenos industriais e negociantes, ligados a grandes parcelas do exército e da intelectualidade atuante, exigia não somente para a alteração dos quadros comportamentais e sociais vigentes, mas, sobretudo, para a renovação da vida escolar tradicional vigorante, a fim de que o País pudesse alcançar o seu progresso. Apesar dos antagonismos e divergência de ideias e de temperamentos, num período de tantas figuras singulares e notáveis, os representantes dos setores médios aspiravam reformas econômicas, políticas e educacionais a que já o antigo liberalismo clássico não podia atender.
O trabalho intelectual desenvolvido por Rui na organização de suas ideias pedagógicas, no momento histórico em que as instituições monárquicas entravam em franca e inevitável crise, tocou admiravelmente no que há de mais permanente na comunicação entre professor e aluno, o método. Pertinácia didática auxiliada por uma superior consciência crítica, inteiramente voltada para uma sociedade nova. Teve, por essa razão, o raro dom de considerar os outros sistemas educativos à luz das novas exigências peculiares ao desenvolvimento industrial, copiando aqueles aspectos que só poderiam, sem grande dispêndio, modificar os hábitos rotineiros de ensinar e de pensar, com rara forma de expressão, de demonstração dialética e polêmica realmente criadoras.
As concepções didáticas que pregara em relação ao ensino da Língua Materna, das Ciências, da História, da Geografia, do Desenho ou da Sociologia, para não citar outras disciplinas dos diferentes currículos dos cursos primário, secundário e superior, evidenciam uma didática que respondia quase sempre a uma pedagogia, a uma psicologia, ao mesmo tempo que a uma certa concepção do homem e da sociedade brasileira. Pretendeu renovar, pretendeu se adaptar à nova época que se transformava econômica, social e culturalmente, na Europa e na América, antecipando a preparação educacional que era exigida pelas circunstâncias dos novos tempos, mas não compreendida pelos educadores e legisladores brasileiros de seu tempo. Queria homens eficazes para o futuro do País, dentro das novas e revolucionárias tendências pedagógicas e psicológicas que despontavam.
A consciência didática do pensamento pedagógico de Rui Barbosa demonstra, por excelência, um momento raro da história