A consciência didática no pensamento pedagógico de Rui Barbosa

Basta, para confirmar tal observação, o estudo minucioso das histórias de vida de um Quintino Bocaiúva, Alcino Guanabara, Tobias Barreto ou do próprio Rui Barbosa. As possibilidades de ascensão oferecidas pelo periodismo, pela representação política popular e pela educação sistemática, numa estrutura social que não se apresentava tão rígida, transformavam esses elementos notáveis dos setores médios brasileiros em arautos do progresso e da emancipação política e econômica do povo. E as elites das classes dirigentes nunca foram capazes de manter o grau de rigidez ideológica a que aspiravam contra as investidas dos intelectuais da classe média urbana. Estes chegariam ao poder muito mais depressa do que se imaginava, em consequência de transformações sociais e políticas que as elites do poder não previram. O fermento que produziria a Abolição, a República e, no caso de nossa tese, o fenômeno dos "Pareceres" de Rui, sem dúvida veio também da Europa e dos Estados Unidos. Liberdade, igualdade, fraternidade e razão, o governo representativo e constitucional republicano, eram seus sonhos. E somente os intelectuais dos setores médios da sociedade brasileira do último quartel do século XIX estavam em condições sociais e ideológicas para receber o impacto das novas ideias e traduzi-las em termos de ação política eficiente, pois os escravos, degradados e obedientes até o servilismo, vegetavam, economicamente dependentes e politicamente nulos. Os detentores do poder econômico procuravam manter seu status quo social e político, pouco interessados nos processos de mudança, salvo alguns intelectuais trânsfugas, como do tipo de Joaquim Nabuco.

Convém assinalar que, no Brasil, durante os últimos anos do Império, a escravidão, mais do que o ensino, foi o que mais preocupou o interesse e a atenção dos setores responsáveis pela produção nacional, porque havia flagrantes interesses econômicos em jogo. Fizeram-se grandes esforços físicos e mentais em busca de soluções que harmonizassem as opiniões e interesses em crise. Grupos médios que sustentavam, como em toda a América Latina(8) Nota do Autor, políticas arbitrárias ou racionais como o meio mais rápido para obter as liberdades humanas mediante o constitucionalismo republicano apresentavam figuras que souberam compreender que a conquista do bem-estar político e econômico do País dependia do desenvolvimento e da reforma de outras áreas da vida nacional. A época indicava que a solução deveria encontrar-se na esfera econômica, pois as principais

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