impropriedade de tais comentários. Entretanto, seu pensamento pedagógico, sua crítica aos métodos didáticos dominantes na sua época, sua preocupação visando associar o povo diretamente à obra do ensino, através dos Conselhos Escolares Eletivos de paróquias, aos quais incumbia "prover, cada qual na sua paróquia, os meios necessários para dotá-la, num prazo que o governo fixará em relação a cada uma, com um grupo escolar modesto, compreendendo um jardim de crianças, uma escola primária graduada, pelos três cursos estabelecidos nesta lei, uma aula noturna de adultos e uma classe de desenho industrial", constituem, sem dúvida alguma, clara antevisão das necessidades básicas do sistema educacional de um país como o Brasil, subdesenvolvido e dependente economicamente. Postula diretrizes de uma política educacional para levantar o País, sempre debruçado sobre o abismo, como apregoam as eternas Cassandras de todas as épocas, incapazes de compreender as amarras de nossas dificuldades.
Nenhuma literatura, pedagógica ou não, surgida em sociedade do tipo do Brasil imperial, poderia apresentar uma contribuição de pensamento progressista como as proposições educacionais de Rui, que as circunstâncias sociais e emocionais dos anos seguintes à proclamação da República vieram demonstrar que não eram assim tão utópicas ou românticas, porque fruto da inteligência acostumada à lógica e à dialética, como afirmara Capistrano de Abreu ao historiador português Lúcio de Azevedo, na caracterização do perfil intelectual de Rui Barbosa.
Por todas essas razões, Rui, em matéria de indagações educacionais, foi a mais notável expressão da "consciência burguesa", como elemento constitutivo que era da intelectualidade da classe média urbana nos fins do século XIX. Daí não terem as classes dirigentes levado à prática social suas aspirações pedagógicas, conforme esclareceremos no desenvolvimento de nossa análise crítica.
A classe média brasileira não era ainda a classe social detentora indiscutível do poder político, capaz de gerar mudanças sociais profundas, e muito menos seria como a classe média atual, tão ambiciosa e desejosa de prosperidade material. A educação constituía, como de resto, em toda a América Latina, privilégio da classe dirigente, de profundas raízes agrárias e comerciais. Só quando as bases fundamentais da economia geral da nação foram se transformando, ao sabor das repercussões das economias alienígenas, muitos dos anseios educacionais do tribuno brasileiro puderam se tornar realidade, tal como iria acontecer com a criação de escolas de ensino industrial durante a Primeira Guerra Mundial, quando o País passou