linha de discriminação social e política imperante na época, "em que só ao senhor se reconhecia como ente de razão, e jamais ao escravo"(13) Nota do Autor, conclui Farrington, ao examinar neste trabalho as ligações da ciência grega com a vida social, com as técnicas, com as bases econômicas e a atividade produtora da sociedade grega.
Historiadores europeus, como o inglês G. M. Trevelyan(14) Nota do Autor, justificam a significação do estudo da história social e seu valor positivo quando estudam a vida diária dos habitantes nas épocas passadas, incluindo as relações humanas e econômicas de diferentes classes, o caráter da vida familial e doméstica, as condições do trabalho e do lazer, a atitude do homem para com a natureza, a cultura de cada idade: como surgem das condições gerais da vida e se manifestam em formas mutáveis na religião, literatura e música, arquitetura, conhecimento e pensamento.
Por outro lado, muito antes do aparecimento das mais recentes obras de nossa esplêndida bibliografia de ensaístas e intérpretes da formação e desenvolvimento da civilização brasileira, em outros países da América Latina surgiam estudiosos firmemente presos à corrente metodológica materialista dialética, com estudos pioneiros da história social. Assim, Anibal Ponce, em importante ensaio, demonstra esta tendência, ensaio em que analisa as origens do humanismo burguês e o humanismo proletário(15) Nota do Autor, entendidos através da interpretação da vida e da obra, respectivamente, de Erasmo e de Romain Roland; demonstra como a cultura, da mesma forma que a educação, serviu de instrumento na luta de classes, a fim de que os "possuidores oprimissem os oprimidos", os que trabalhavam. Com penetração e inteligência, que honram a tradição cultural hispano-americana, o arguto pensador argentino expõe a tendência do humanismo como o vasto movimento que começara no século XV e que se acha estreitamente ligado ao aparecimento e hegemonia, cada vez mais crescente, da classe burguesa. E o humanismo como fenômeno pessoal, cultural e psicológico se explicaria dentro de uma atmosfera na qual os banqueiros se apresentariam como os patrocinadores da nova concepção do mundo e do homem, racionalista na sua concepção, indiferente às várias teologias e denotando um pacifismo tal como exigia o interesse material e comercial dos integrantes da nova burguesia comercial europeia. Daí, naturalmente, a ideologia,