e social, representado pelas contradições originadas pelos próprios fatores econômicos e pela agitação das ideias. O problema da solução do trabalho servil será destacado com ênfase, logo a seguir, como forma de produção dos únicos trabalhadores agrícolas existentes no País.
Dentro deste quadro geral, Rui Barbosa vai viver, como típico representante deste setor da intelectualidade da classe média, uma grande e fecunda etapa política, quando o País sofria transformações de importância, mais na forma do que no fundo, realmente, mas que afetaram a fisionomia social da Nação e empolgaram a parte da população que estava em condições de participar da luta renovadora.
Demasiado ligado a uma sociedade individualista, de tradição escravagista, muitos dos problemas sociais contemporâneos não despertariam a atenção do tribuno baiano. Para o seu espírito, entretanto, não só o que era individual tinha alto valor. A posição de Rui não pode ser analisada de uma maneira simplista; ela tem suas particularidades e, principalmente, enquadra-se no tempo em que viveu o grande baiano.
O declínio do Império, com a ideia salvadora da Federação, advento da fase final da campanha abolicionista; o preparo e o desencadeamento da mudança que provocou a República e, dentro dos novos moldes, novas instituições; a luta pelos direitos individuais, fundamente ameaçados pelo poder — em todas essas etapas, enfim, Rui participou com maior ou menor destaque, servido pela sua poderosa eloquência. Bateu-se nos lugares que lhe couberam, ou que ele conquistou, pelas reformas mais próprias ao ambiente. Nessa luta, se a eloquência foi o instrumento, modelado segundo os melhores antecedentes, a ordenação jurídica foi a fase mais essencial. Ninguém, apontam os seus melhores críticos, acreditou mais do que Rui na força da lei, na sua capacidade para modificar o meio. Suas campanhas, colocadas em um nível que dificilmente se alcançaria hoje em dia, graças à singularidade de sua ação pessoal e ao impulso que soube dar aos princípios pelos quais se batia, diluíram-se no quadro geral do desenvolvimento histórico, perdendo em influência e receptividade, como já foi assinalado, conservando, todavia, a grandeza para os que as assistiram.
Lutando pelos seus ideais partidários, em situações muitas vezes das mais difíceis, defrontando-se com situações políticas solidamente firmadas na realidade histórica e social em que vivia, acreditava sobretudo na capacidade mágica de sua eloquência para tudo mudar,