A consciência didática no pensamento pedagógico de Rui Barbosa

convertendo, em muitos momentos, alguns dos mais severos e atrasados oligarcas em flexíveis servos da vontade popular.

Evidentemente, as contradições entre o pensamento de Rui e a ação política que desempenhava denotavam a consciência crítica de classe que ele não possuía. Nossos males, nossos problemas certamente não seriam corrigidos apenas por intermédio de reformas constitucionais. Rui não viu o que estava por detrás das violências contra as quais se batia ao levantar a bandeira dos direitos constitucionais como formulação jurídica capaz de restabelecer o direito e a justiça entre os homens: não percebeu com profundidade, como elemento da classe média em ascensão, o que estava realmente por detrás da aparente cegueira dos homens de partido que o admiravam, sem dúvida, mas que o deixavam de parte em suas composições eleitorais.

Embora um homem da argúcia e da inteligência de Rui não tenha atentado para as grandes alterações que se processavam por toda parte, mesmo quando já entrara para a velhice, em plena maturidade de sua formação e de sua vida pública, soube formular planos de reforma educacional e de caráter econômico avançados para a época. Não só aflorou o da educação nacional: soube demorar-se sobre ele de tal forma, como tentaremos provar nos capítulos seguintes, que sua personalidade e sua posição ideológica se integraram no processo das aspirações de um povo com clareza, deixando-nos uma grande lição, sem a característica da ingenuidade ou da crença nas formulações vazias de sentido.

A análise do pensamento de Rui e, muito especialmente, o estudo crítico de sua consciência didática, das técnicas de direção da aprendizagem, servem para colocar também, com mais objetividade, o problema do intelectual e sua participação na vida social e política. Foi ele, sem contradição, um típico representante dessa modalidade de personalidade, mostrando, em toda a sua vida e carreira política, muito de suas contradições de origem social, incertezas e defeitos que corriam por conta do estereótipo generalizado que o intelectual representava: ser intelectual seria desprezar a realidade, e a prefiguração social leva o preconceito a funcionar como desprezo à cultura, por ser ela um instrumento capaz de distanciar a criatura da realidade, quando apenas representa, de fato, e instrumento operante para a perfeita comunhão entre a realidade e a criatura.

Antes da implantação da República, muitos intelectuais da vida brasileira criavam condições de pusilanimidade para a manutenção desse estereótipo. Todos acreditavam na República, mas acrescentavam

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