refletido na elaboração de esquemas explicativos dos fatores básicos formadores da história de qualquer sociedade humana. Parecem-nos muito frutíferas as perspectivas e os argumentos "a favor" ou "contra" que têm surgido da controvérsia sobre a concepção de classe e de consciência de classe, falsa ou verdadeira. Precisamente pela ressonância polêmica e até emotiva que apresentam tais conceitos, temos neste trabalho interesse em evitar os pontos mais divergentes da metodologia adotada e aceitar aqueles conceitos operativos e generalizadores de classe que possam mais facilmente ser manejados.
Estudar a consciência de classe do setor intelectual da classe média em vista da posição e do papel social e político da aristocracia agrária no poder é estudar os fatores que afetavam o sentido de identificação ou de separação em relação aos anseios mais profundos e historicamente definíveis da classe média e do povo em geral. Mais precisamente, necessitamos destacar, como é óbvio, a identidade que existe entre o intelectual da classe média e o movimento renovador de ideias e ideais educacionais no contexto da evolução histórica do período no qual aconteceram os "Pareceres" e escritos pedagógicos de Rui. É, indubitavelmente, uma fase da consciência de classe que pode ser caracterizada através da análise e interpretação dos próprios documentos pedagógicos.
Nesta direção metodológica mais restrita, portanto, tentamos uma forma de interpretação da obra pedagógica de Rui Barbosa como reflexo de "uma consciência verdadeira" da situação da classe média e de seus autênticos interesses no processo evolutivo da sociedade brasileira.
É evidente que nenhuma ação humana tem por sujeito apenas um indivíduo isolado. O sujeito da ação é o grupo, um "nós", mesmo que a estrutura atual da sociedade, como quer Lucien Goldmann, no seu trabalho clássico sobre Dialética e Cultura(22) Nota do Autor, tenda a encobrir esse "nós" e "a transformá-lo numa soma de várias individualidades distintas e fechadas umas às outras". E prossegue: "Há entre os homens uma outra relação possível além da relação de sujeito a objeto ou da de 'eu e tu': é uma relação de comunidade que chamaremos o 'nós', expressão de uma ação comum sobre um objeto físico ou social".
E explica ainda que na sociedade atual cada indivíduo está engajado numa multiplicidade de ações comuns desse gênero, ações nas quais o grupo sujeito não é idêntico e que, tomando todas uma importância maior ou menor para o indivíduo, terão uma influência