os membros de um grupo, ou de uma classe social, opondo-se aos outros grupos.
O importante é considerar que existe uma "tendência real entre os membros de um grupo no qual todos realizam esta consciência de classe de uma maneira mais ou menos consciente e coerente"(24) Nota do Autor. Existiria, assim, uma consciência relativa, e só raramente, pois, indivíduos excepcionais atingem, ou pelo menos quase atingiriam, a "coerência integral". E na medida em que chegam a exprimi-la, Goldmann observa sociologicamente: "no plano conceituai ou imaginativo, serão filósofos ou escritores e suas obras serão tanto mais importantes quanto mais se aproximarem da coerência esquemática de uma visão do mundo, quer dizer, do máximo de consciência possível do grupo social que exprimem".
Dizíamos, em tópico anterior, que a obra pedagógica de Rui reflete uma consciência verdadeira dos interesses da classe média. Ela será verdadeira em vista da possibilidade de perspectiva histórica em que hoje nos encontramos. Isto não quer dizer que naquele momento histórico em que surgiram os trabalhos pedagógicos, bem como os econômicos, políticos ou jurídicos do notável tribuno, existisse conscientemente em sua mente a noção de identidade entre a classe da qual provinha e aquela à qual acreditava pertencer ou poder pertencer. A situação do ensino brasileiro, em todos os seus níveis, foi o fator estimulador que criou a perspectiva ideológica reformista de Rui, a qual hoje prefigura, após a revolução social de 1930, muitos dos anseios realizados ou por se realizarem da classe média e do pensamento burguês contemporâneo. Quando Rui via no ensino primário uma base ampla de cultura geral, da qual se poderia partir para as especializações e as aplicações profissionais e pré-profissionais, conforme sugeria na organização do currículo do Liceu Imperial Pedro II, ao dispor sete cursos sobre Ciências e Letras, Finanças, Comércio, Agrimensura e Obras Agrícolas, Maquinismo e Mestria Industrial, Maquinismo e Relojoaria e Instrumentos de Precisão, estava ele, sem dúvida, assumindo deliberadamente uma forma de pensamento reformista e progressista, porque antecipava as necessidades de formação de cidadãos úteis a si mesmos e à sociedade maior, que podia, assim, libertar-se de suas formas arcaicas de organização e de produção agrícola. Tal maneira de colocação tem raízes na sua condição de elemento da classe média, que não podia aceitar um ensino formal, verbalista, sem contato com a realidade. "Uma instrução de palavras e formas convencionais