Devoção e escravidão. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos no Distrito Diamantino no século XVIII

com fundos para isso, tendo reunido material que se encontrava disperso em igrejas e capelas da região. Apesar disso, foi-nos possível empreender ali a leitura de inúmeros Livros da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos do Arraial do Tijuco, bem como da associação correspondente no Serro, antiga Vila do Príncipe. Pôde ser lido inclusive o Compromisso, extremamente elaborado e o mais antigo da região. Também utilizamos documentação pertencente à Irmandade do Santíssimo Sacramento, com o fito de tentar uma comparação entre a confraria de negros e outra de brancos, seus senhores. Além disso, consultamos os Livros da Irmandade de Nossa Senhora das Mercês, de crioulos e mulatos, irmandade essa que era das mais pobres da região, com renda inferior, por sinal, à da Confraria do Rosário.

Com a finalidade de conhecer mais profundamente a estrutura da população local, pudemos consultar também os Livros de Batizados e de Casamentos, infelizmente bastante estragados.

Os Livros da Irmandade do Rosário e os das demais organizações devotas e profissionais do Distrito, como, aliás, qualquer um de associações desse gênero, foram elaborados por pessoas diferentes, que ocuparam sucessivamente cargos diretivos. Essas pessoas não obedeceram a norma alguma, de onde a disparidade possível nas informações que conseguimos obter e que impediram a elaboração de tabelas, bem como a manipulação de certos dados, que, se possíveis, deveriam ser sumamente interessantes para nosso intento. As citações desses livros foram aproveitadas, no entanto, integralmente, não obstante lacunas e erros que porventura contenham.

Uma pesquisa proveitosa sobre o período só poderia ser realmente completa com uma estada em Portugal para consulta da rica documentação que se encontra nos arquivos locais existentes sobre o Brasil. Para tornar possível essa pesquisa, solicitamos uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa, que concordou em concedê-la. A possibilidade de ler o material existente nos arquivos portugueses levou-nos a uma reelaboração do trabalho, pois permitiu-nos uma visão mais ampla e geral das Irmandades de pretos, bem como da vida das pessoas de cor no Distrito Diamantino e na Capitania de Minas Gerais, além de uma comparação com a Metrópole.

Com essa finalidade consultamos os documentos que se encontram no Arquivo Histórico Ultramarino, tanto os Códices que contêm instrução para o governo da Capitania, como os Compromissos de irmandades de negros, ali recolhidos. Mas a maior parte do tempo foi empregada na leitura do material existente em 64 caixas que tratam especificamente do século XVIII. Tais caixas, rubricadas com o título geral de Minas Gerais, contêm

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