Devoção e escravidão. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos no Distrito Diamantino no século XVIII

tentando ao mesmo tempo melhorar suas condições de vida, por outro diminuíram talvez a possibilidade de vitória das revoltas coletivas, o que teria levado à procura de novos caminhos.

Mas é muito provável que, com ou sem confraria, o escravo não teria possibilidade de se libertar por meio de uma insurreição. Pelo menos tal não aconteceu nos Estados Unidos, onde as inúmeras revoltas foram esmagadas pela superioridade da técnica militar, com armas mais eficazes e modernas, pela própria organização da Colônia, pelas distâncias, pelo medo do branco que o levava a uma vigilância contínua, a sufocar os focos de rebelião. As revoltas foram mais numerosas do que se supõe, tanto em nosso país como nos Estados Unidos.(2) Nota do Autor Mas não resultaram em vitórias. Não foi, portanto, a ação da irmandade que as impediu. Nisso, também tiveram papel as rivalidades entre as diversas "nações" africanas, ancestrais e tradicionais, que impediram qualquer ação violenta e eficaz contra o cativeiro.

Na região das Minas, mais do que em outras quaisquer, o ensejo de enriquecimento que não dependia de capital, mas sobretudo da sorte, é de molde a desenvolver no homem de cor uma mentalidade competitiva, o desejo de alcançar liberdade, riqueza e melhora individual. Havia, por outro lado, o recurso à fuga e ao quilombo, a oportunidade de um trabalho clandestino que lhe assegurava a sobrevivência. Não foi a irmandade que impossibilitou um domínio da região pelo homem de cor.

Por outro lado, entretanto, não podemos aceitar, como dizem muitos, que as confrarias de pretos tivessem como meta a procura da liberdade. Essa, sem dúvida, seria uma de suas finalidades, ao menos no seio de grupos mais conscientes, mas acima de tudo a procura de uma liberdade individual. Mas tanto as associações de pretos como as de pardos eram vistas, sem dúvida, como insubmissas pelas autoridades. Martinho de Mello e Castro, que acusa as confrarias em geral, comenta que as piores são as de pretos e pardos de Minas Gerais, fazendo dessa capitania o centro das discórdias.(3) Nota do Autor Essa autoridade achava que tais associações representavam um perigo, pelo seu desejo de liberdade "(...) e espírito de arrogancia, de soberba e independencia, que domina naquellas Corporaçõens, principalmente na dos Pardos e Pretos (...)".(4) Nota do Autor Sendo nessas associações que se reunia o grupo explorado, eram

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