passíveis de se transformar em focos latentes de rebelião, de onde a necessidade de fiscalizá-las. Para o branco, as irmandades do homem de cor também se apresentavam sob um duplo aspecto, eram o veículo de cristianização e consequente abandono das crenças ancestrais e, ao mesmo tempo, ofereciam o perigo de concentrar os elementos atuantes desses grupos, que de outro modo estariam dispersos e mais dificilmente poderiam empreender qualquer ação produtiva. Com o desenvolvimento do regalismo, procurou-se manter um efetivo controle sobre as confrarias e a Coroa não deixava de encará-las como possíveis núcleos de rebelião. Quando a insatisfação se tornou mais frequente, esse controle manifestou-se com maior violência.
As irmandades não deixaram de ser um meio de mitigar a escravidão, se é que houve possibilidade de diminuir seus malefícios.
Apesar de as rivalidades entre os diversos grupos africanos terem sido frequentes, como o provam a denúncia de pretos contra pretos e outras questões de igual teor, a confraria foi, entretanto, veículo de união. Agrupando as mais diversas "nações" colocadas debaixo de uma condição comum — a escravidão — a irmandade procurava proteger e melhorar a sorte de seus membros, resolvendo seus problemas específicos. O interesse coletivo os levava a empreender uma ação conjunta ligando etnias inimigas em suas terras de origem. Era à confraria que o homem de cor podia recorrer, quando às voltas com a doença, a miséria, o abandono, ou quando desejasse conseguir sua liberdade sem precisar fugir. Funcionando como sociedade de proteção mútua, a irmandade oferecia aos irmãos os meios de entrar em contato com os problemas do negro, escravo ou livre, possibilitando o abandono de antigas rivalidades na tentativa de resolver uma situação presente a todos afetando indistintamente. Os compromissos acentuam, aliás, a necessidade de união entre os membros e estes procuraram constantemente solucionar os litígios que os pudessem separar. Talvez alguma dessas questões tiveram como origem problemas raciais, mas, pelos livros, notamos que a organização empreendia uma ação comum, no sentido de superar as rivalidades étnicas.
Isso não impede que mantenham ligações afetivas com os membros de sua "nação", "conservão uma fé inviolável aos seus compatriotas".(5) Nota do Autor Essa ligação deveria ter sido acima de tudo emotiva, uma supervalorização dos antigos régulos e de seus parentes, levando os negros a escolherem para padrinho alguém