que fosse representativo em sua tribo e lhe prestavam homenagem e obediência.(6) Nota do Autor É difícil saber de outro tipo de laços, mas é possível que tenham existido. Entretanto, no Distrito, a dificuldade de nomearem-se reis e rainhas de determinados grupos étnicos deve ter prejudicado a conservação de uma unidade tribal. Mas, mesmo ali, há a expressa recomendação de que devem ser pretos, de qualquer "nação". A imensa variedade de grupos que demandaram a região, as vezes com poucos representantes, parece ter transferido para o rei eleito o respeito e a consideração dos demais. De fato supomos que tal autoridade foi criada exatamente para isso, para substituir o régulo que perderam, originando o aparecimento de uma liderança que tendiam a considerar mais verdadeira do que a imposta pelo branco. Obrigado a obedecer a uma autoridade baseada na força, o negro às vezes se submetia voluntariamente ao comando de alguém de sua própria cor, onde parecia encontrar um cunho de legitimidade maior.
As confrarias serviram de veículo de transmissão de diversas tradições africanas, que se conservaram pela frequência dos contatos, pela conservação da língua e outras razões semelhantes. Na Demarcação Diamantina isso também acontece, sem dúvida, mas em escala menor, pela imensa variedade de "nações" que ali se estabeleceram e também pela maior dificuldade de contato. Essas tradições se mantiveram com maior pureza apenas em algumas circunstâncias, como as que ocorreram em S. João da Chapada, estudadas por Aires da Mata Machado Filho. Mas o mais frequente será a criação de novas tradições. Incorporando às crenças católicas, tentando solucionar problemas tais como o da morte, preocupação das religiões africanas e do catolicismo, criou-se uma amálgama mais profunda entre a religião do branco e as do homem de cor. Essa união será mais intensa do que no litoral. A própria distância tornava difícil o contato com os locais de origem dos diversos grupos, ao passo que, onde o tráfico se fez sentir com intensidade por muitos e muitos anos, foi possível um contínuo comércio de produtos, inclusive religiosos. No Distrito, o tráfico foi, em linhas gerais, restrito aos anos de euforia da mineração; posteriormente, não apenas diminuiu o número de escravos, como a maior parte deles era originária do local, conforme nos é revelado nos Livros de Batizados e nos de Casamento. Mais do que as crenças, serão os costumes que mostram as características na Confraria do Rosário. Desses, o mais importante e conhecido será o da "coroação do rei do Congo", como se diz