era grande o número de membros da Igreja. Num Mapa de 1767 vemos que numa população de 29.538 almas se encontravam ali cinco vigários e 85 clérigos,(24) Nota do Autor total bastante elevado para uma região onde não havia convento ou comunidade religiosa, o que nos leva a supor que não os movia apenas a piedade e a devoção desinteressada. O próprio Soberano, considerando excessivo o número de eclesiásticos que se dirigiam às Minas, pediu ao Bispo de Mariana que averiguasse quantos seriam necessários na região, a fim de mandar embora os excedentes.(25) Nota do Autor Essa severidade era igual ou maior no caso do Distrito Diamantino. Pediu-se que os ordinários estabelecessem quantos eclesiásticos seriam necessários para administrar ali os sacramentos, expulsando os demais. Se estes se negassem a sair, ordenava que "os façaes logo embarcar para êste Reyno, evitando assim toda a Occasião de Me ver obrigado auzar do meu justo e Real poder (...)".(26) Nota do Autor
O dedicarem-se os padres à mineração, ao comércio e ao contrabando não será apenas um fenômeno brasileiro. Em Moçambique(27) Nota do Autor e, possivelmente, em outras regiões, durante o século XVIII, verificaram-se casos idênticos. Há outro aspecto da animosidade da Fazenda Real contra os eclesiásticos. É que muitos ousavam discutir o "sagrado direito" dos quintos, chegando mesmo a levantar no púlpito dúvidas sobre a legalidade de tais imposições. Essas palavras estimulavam naturalmente uma população de poucos escrúpulos, escorchada por altas tarifas, ansiosa por alcançar a absolvição dos seus pecados. A possibilidade de influir sobre as consciências dava ao padre uma grande força, fazendo dele um elemento temido e, portanto, digno de ser contido.
Também as isenções de que gozavam os clérigos, segundo os Regimentos em vigor, faziam deles indesejáveis, sobretudo porque a mineração acarretava problemas novos, peculiares à Capitania de Minas Gerais. Um desses foi a questão de padres deverem ou não pagar a capitação como os demais habitantes das minas.
Tentando descontentar o menos possível seus súditos, mas, ao mesmo tempo, firmes no propósito de receber parte valiosa e substancial das riquezas minerais da Capitania, os Reis portugueses foram mudando as maneiras de taxar essa população. Da capitação passa-se ao regime dos quintos e de novo volta-se àquela, sem se chegar a alguma fórmula capaz de alcançar os resultados ambicionados.