Devoção e escravidão. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos no Distrito Diamantino no século XVIII

portuguesa de Santarém, quando se criticou a intromissão do Provedor Real na Irmandade do Rosário:

"(... )vos não intrometais a tomar cartas das Confrarias de Nossa Senhora do Rozario de que se trata, porquanto se mostra serem erectas e estituidas pellos ditos aggravantes Religiosos em virtude de seus Breves e indultos de Sua Religião, e como tal na forma de sua Ordenação ficam sendo eclesiásticos (...)."(33) Nota do Autor

Neste caso, o que se considera abusiva é a intervenção do Provedor Real, pois, sendo a confraria fundada de acordo com a religião ou regra dos dominicanos, a estes competia, segundo alegação expressa, a jurisdição sobre ela.

Aqui no Brasil, sobretudo na região das Minas, o peso do regalismo se faz sentir com grande intensidade. Em Portugal a situação é diversa, não havendo aparentemente o perigo de as irmandades se transformarem em focos de rebelião. Além de acarretar ameaças de sedição, poderiam as confrarias representar perigo para a Fazenda Real e o fisco. Algumas faziam alarde de certo espírito de independência, sobretudo as de crioulos e pardos, que se criaram pelos anos de Setenta. É o que mostra a simples leitura do Compromisso da Irmandade de Nossa Senhora das Mercês, que surgiu no Tijuco por essa época, numa acentuada diferença com o que resulta dos outros Compromissos firmados no mesmo Arraial. (34) Nota do Autor Por isso vários itens foram desaprovados pela Mesa de Consciência e Ordens.

Aqui, tanto o poder eclesiástico como o temporal, se achavam de acordo, procurando um e outro combater o espírito de independência que se manifestava em várias irmandades. Estas, por sua vez, também tentam escapar ao controle dos Vigários que, por mais próximos, procuravam de todas as formas colocar esses grupos sob a sua jurisdição. As confrarias, por sua vez, tentavam transformar os padres em elementos contratados, pagos para exercer funções determinadas. Esses Capelães contratados dependiam hierarquicamente dos Vigários das Matrizes, que muitas vezes intervinham em questões que a irmandade considerava de sua própria alçada. Quando surgiram querelas entre Vigários e Irmãos, os Bispos e mesmo o governo apoiaram aqueles, procurando não criar espírito de independência no seio da população. O Bispo de Mariana escreve a esse respeito ao Secretário dos Negócios Ultramarinos,

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