Devoção e escravidão. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos no Distrito Diamantino no século XVIII

d'Officio de Pintor", "Officiais Douradores" e muitos outros. Quase todos têm um santo como protetor, não sendo, porém, compromissos de confrarias religiosas. Mas, nesse século, o gremialismo já está quase fossilizado e é menos expressivo do que em épocas anteriores. As distinções entre as corporações de ofícios e as confrarias religiosas são bastante confusas em Portugal do Setecentos. Encontramos associações tanto de cunho profissional como étnico e outros. Em Lisboa, por exemplo, ao lado de irmandades como a do "Santo Homem Bom do Officio dos Alfaiates", a "do Senhor Jesus dos Pescadores", a de "S. José dos Pedreiros e Carpinteiros", a dos "Mareantes" e outras no mesmo sentido. Às vezes, parece que se reúnem elas por nacionalidade, como no caso de S. Bartolomeu dos Alemães, da Igreja de S. Julião, ou então agrupam classes sociais, como a de Santo Antônio dos Nobres, a dos Nobres de Jesus, Maria, José. Há, além dessas, as que não se integram em qualquer das categorias citadas, como, por exemplo, a Irmandade dos "Homens Segos", que também existia na Espanha e tinha a oração como finalidade principal.

A documentação a respeito dos grêmios profissionais no Brasil não é, infelizmente, vasta.(4) Nota do Autor Esse problema, de mais alto interesse, ainda não mereceu, aliás, estudos que o esclarecessem suficientemente. De qualquer modo, houve aqui o correspondente da "Casa dos 24 mesteres", mas contando apenas 12 representantes, certamente devido ao menor número de artesãos. Além do Salvador, em outras cidades ou vilas, como Belém, S. Luís, Rio de Janeiro, também aparecem representantes dos "mesteres".

Quanto às irmandades religiosas no Brasil, elas aparecem mais ligadas às confrarias medievais, de finalidade religiosa e caritativa.(5) Nota do Autor Apesar de que essas associações gradualmente tivessem desaparecido, é inegável que muitos dos objetivos e características das antigas confrarias europeias continuaram nas irmandades mineiras, com idênticos cultos e festividades de suas congêneres europeias do passado, exercendo, ao mesmo tempo, atividades sociais semelhantes. Tanto a proteção a seus membros necessitados, como a construção de obras religiosas e mesmo profanas, foram exercidas pelas irmandades mineiras, seguindo caminhos semelhantes aos que percorriam no passado as confrarias alienígenas. Os pretos da Irmandade do Rosário de Ouro Preto continuavam — sem o saber — a ação das associações que construíram estradas e pontes,

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