Vida e obra de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho

seção de Minas Gerais, logo se impôs como imprescindível. Professor, tinha da universidade e do problema da educação no Brasil uma visão exemplar, ao mesmo tempo lúcida, realística e apostólica. Entre seus numerosos amigos e admiradores, contavam-se alguns nomes que ultrapassam os limites protocolares do cartão de visitas ou a impostura do curriculum vitae. Para não estender a lista, cito dois: Rodrigo M. F. de Andrade e Milton Campos.

Para alcançar a extensão surrealística ou, perdão pelo lugar-comum, kafkiana, a que chegou a repressão no Brasil, bastaria dizer que, corrido de Belo Horizonte, Sylvio de Vasconcellos encontrou no Rio um apoio amigo no ministro da Justiça de então. Seu nome: Milton Campos. Fui uma vez conversar com o ministro Milton Campos sobre a situação absurda e desumana que envolvia Sylvio de Vasconcellos. E possível que o próprio ministro tenha pedido a um amigo comum, de ambos, para recolher, para asilar o perseguido. Esse amigo era Rodrigo M. F. de Andrade. Faço votos para que nunca mais se repitam no Brasil situações como as que temos vivido nestes últimos anos. Mas, se o diabo permitir que se repitam, que ao menos se preserve esse traço brasileiramente simpático que permite que o ministro da Justiça seja amigo do perseguido; e que isto não seja privilégio de classe, mas que se estenda a todo esse povo obstinado e bom que enfrenta as dificuldades e até a miséria com disfarçado heroísmo.

Aqui estou em grande parte pelas palavras que tive oportunidade de escrever n'O Globo, domingo, 25 de março de 1979, depois que tomei conhecimento da morte de Sylvio de Vasconcellos. Seria ocioso bordar um elogio, mais um, ao trabalho consciente e consciencioso de Sylvio de Vasconcellos. Não tenho autoridade para emitir conceitos ou juízos sobre esta Vida e obra de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que em boa hora a Companhia Editora Nacional decidiu dar a público, em convênio com o Instituto Nacional do Livro. Louve-se ainda uma vez a isenção com que se trata a obra de um homem que por tantos anos foi oficialmente um proscrito. O arrependimento, ou o que quer que a ele se assemelhe, será sempre uma atenuante, ainda que inútil. Sylvio de Vasconcellos já não precisa de nosso perdão. A morte anistiou-o. Nós é que devemos pedir-lhe que nos anistie pelo sofrimento que lhe impusemos. Ainda é tempo; sempre é tempo de pedir desculpas; mesmo sobre um túmulo; até sobre cinzas.

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