Na pesquisa que andei fazendo das cartas e de tudo mais que me traria aqui menos despreparado do que estou, para este prefácio, dei com a cópia xerox de uma carta que Sylvio de Vasconcellos recebeu pouco depois que saiu do Brasil. Foi ele próprio que em Paris me falou dessa carta, que eu desconhecia Tinha-lhe sido um bálsamo em ferida aberta. E falou-me com tanta generosa exaltação que desejei conhecer-lhe o texto. Assim que voltei ao Brasil, dele recebi a cópia, que acabo de reler. Sylvio de Vasconcellos guardava essa carta entre os documentos em que se apoiava para suportar a dor da marginalidade a que tinha sido injustamente condenado. Essa carta foi escrita, manuscrita, por um fervoroso admirador de Sylvio de Vasconcellos, que o conhecia de leitura, de vista e de chapéu: Antonio de Lara Resende. Do alto dos seus 85 anos, meu pai tem esse mérito: mandou a Sylvio de Vasconcellos uma palavra de admiração, de solidariedade e de estímulo, no momento em que Sylvio atravessava uma das piores fases de seu cruel exílio.
Volto ao artigo com que rapidamente registrei a morte de Sylvio de Vasconcellos. Tem o título de "Lágrima bastante barroca". Depois de volteios que não vêm ao caso, escrevia eu os dois parágrafos que aqui se seguem:
"Confesso agora que estou mineiramente a dar voltas ornamentais em torno do tema que trago na ponta da língua e no fundo do coração, desde a primeira palavra desta conversa. Refiro-me a Sylvio de Vasconcellos, que, entre tantas coisas que fez, fez o ensaio de caracterização Mineiridade, edição de 1968, com apresentação de Afonso Arinos de Melo Franco. Sucede que Sylvio morreu; feliz convidado para sempre, partiu para o definitivo exílio com a descortesia de quem não quer incomodar. Sua morte me passou despercebida, até que vi O Estado de Minas de terça-feira passada; ali aparecem três artigos - de Brasil Borges, que só conheceu Sylvio epistolar; de Affonso Ávila, especialista na cultura barroca e que em Sylvio tinha portanto um mestre e um amigo; e de José Bento Teixeira de Salles, meu mais moço companheiro dos anos 40, quando juntos fomos péssimos recrutas de uma República civil, fundada em Santa Luzia, no ano da graça de 1842.
A seu modo, Sylvio foi em Minas o que foi no Brasil seu/nosso amigo Rodrigo M. F. de Andrade; nisto, creio que está a maneira mais discreta de exaltar-lhe a perfeição moral e intelectual. A partir de 1964, perseguido de maneira mesquinha e injusta,