deixou Minas e o Brasil; vi-o, deprimido, tumularmente deprimido, na Europa, em 1965. Outras vezes nos vimos e nos escrevemos. Morto em Washington e cremado, suas cinzas, a seu pedido, foram levadas para o Parque da Colina, em Belo Horizonte. Um país que não compreende Sylvio de Vasconcellos e uma vida cega que o mata nesta hora são um só mistério inexpugnável, sobre o qual deito a lágrima de indignação cívica e de amizade que até aqui escondi para melhor chorá-la. O Brasil, sobre ser insensato, às vezes me parece um carrasco pródigo; um desperdício, que Sylvio amou e entendeu, sem a contrapartida do reconhecimento. A vida é estúpida e a morte quem sabe esconda um seio maternal."
Em artigo publicado em O Estado de S. Paulo de 24 de junho de 1979, sob o título "Atualidade do liberalismo de Milton Campos", Orlando M. Carvalho estudou a personalidade de Milton Campos e permitiu-se algumas considerações sobre o que tem sido chamado de "mistério de Minas", para depois indagar: "Quem são esses mineiros misteriosos, que discutem os clássicos na rua, como gregos na sua cidade? Esses mineiros diplomáticos e desconfiados - que sabem que não se controla a palavra, depois de proferida - falam pouco, só o necessário e o necessário dentro do possível - esses mineiros são um mistério para o Brasil. Leram os clássicos e aprenderam a lição - que neles está - de que o princípio da democracia é a virtude humilde do povo. São personalidades que se bastam, que não viajaram nunca para o exterior, como Emilio Moura, ou mal atravessaram a fronteira na velhice, como Milton Campos. Nem por isto deixaram de ser cidadãos universais, refletindo as inquietações e aspirações da humanidade de seu tempo e que, no fim da vida, escorrem sabedoria, como o Sena do poema de Drummond."
Infelizmente, Sylvio de Vasconcellos, afastado de seu retiro em Minas, se viu projetado na solidão do mundo. Sua grandeza de alma, porém, levou-o a permanecer mais perto do Brasil e de Minas, enquanto esteve fora; à distância, veio-lhe a perspectiva para melhor amar e louvar a pátria e as suas raízes. O conhecimento da Europa e dos Estados Unidos alargou-lhe o horizonte de humanista que já daqui partiu sem peias e tapumes; Portugal deu-lhe o refresco de um reencontro, ao mesmo tempo que permitiu aprofundar seu entendimento de nossa formação. Na apresentação de Mineiridade, que é de 1968, Afonso Arinos de Melo Franco diz que "o que Sylvio nos revela sobre a arte mineira em geral, especialmente a arquitetura, nas suas relações com a sociologia