Vida e obra de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho

em algumas poucas localidades, mas a qualidade das obras impôs-se à sua quantidade. Paradoxalmente, foi a decadência que ensejou o apuro das iniciativas artísticas e culturais, talvez proporcionado pela maior disponibilidade de profissionais e maior seleção de mão de obra. Com a carência de recursos e maior tempo para a execução das obras, muitas das quais se arrastariam por dezenas de anos ou se paralisariam inconclusas, fizeram-se elas mais bem pensadas e mais perfeitas.

1.7

O obra de Antônio Francisco Lisboa corresponde perfeitamente ao meio, período e circunstâncias em que se inseriu. Embora admirável, é expressão natural do ambiente que a ensejou e não fruto de milagroso acaso, pois, se gênios definem determinado espaço e tempo, são por estes, também, definidos.

Se de glórias se reveste a figura do artista, traduzem elas, paralelamente, os méritos da civilização oitocentista mineira. É certo que, em seu campo de atividade, Antônio Francisco brilhou como estrela de maior grandeza, mas não esteve sozinho em firmamento carente de astros. Lopo de Mesquita, Filipe dos Santos, Arouca, Ataíde, Joaquim José da Silva Xavier, Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Servas, João Batista de Figueiredo, e muitos outros, são apenas alguns poucos dos inúmeros indefinidamente mencionáveis que fizeram, igualmente, por merecer os louros que a história reserva às personalidades que a engrandecem. Cada um à sua maneira, e todos conjuntamente, iluminaram o cenário em que viveram e o engalanaram de belezas.

Depois, esgotado o ouro ao alvorecer do século XIX, o desenvolvimento regional quase de súbito se estancou. Fugiram os mineradores para as matas e socavões, abandonando nas encostas dos morros as escuras bocas vazias das minas exauridas. Então entregaram-se a uma agricultura de subsistência que, por todo um século, conservaria a região em profundo letargo.

À margem dos caminhos, em praias de ribeirões e outeiros de montanhas, ficaram plantados, porém, e imperecíveis, os testemunhos da fé, da coragem e da capacidade dos mineiros. Pois que, em meio a uma natureza agreste, avara, rude, isolados e entregues à própria sorte, souberam eles construir um mundo de maravilhas, no qual germinariam as sementes mais férteis da sensibilidade artística da gente brasileira.

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