O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX

São muitos os anúncios relativos a escravos africanos ou de origem africana, em jornais brasileiros do século XIX, dos quais surgem expressivos africanismos. Dentre esses, mucama, banzo, cangulo, banguelo. Registre-se aqui que através desses anúncios me foi possível, com o valioso auxílio do então ainda estudante e já pesquisador como que nato, o hoje mestre José Antônio Gonsalves de Mello, realizar um dos meus sonhos: identificar origens tribais ou geográficas de escravos africanos introduzidos no Brasil. Sabe-se que pouco de exato se conhece dessas origens. A análise de anúncios de jornais relativos a escravos veio trazer preciosa contribuição para o esclarecimento de parte tão obscura da história desse aspecto das relações do Brasil com a África negra.

Mais do que isto: a análise sistemática de anúncios relativos a escravos nos jornais brasileiros do século passado veio permitir chegar-se a importantes conclusões ou interpretações de caráter antropológico quer psicossomático, quer de todo cultural, à base das descrições oferecidas das figuras, falas e gestos de negros - ou mestiços - à venda e, sobretudo, fugidos: altura, formas de corpo, pés, mãos, cabeças, dentes, modos de falar, gesticulação, doenças. Entre estas, me foi possível identificar a presença, em escravos introduzidos no Brasil, não só vítimas de ainhum, como do próprio raquitismo. Devo dizer que, além de J. A. Gonsalves de Mello, colaboraram comigo, em pesquisas sobre matéria tão complexa, outros também então estudantes e depois brasileiros notáveis em várias profissões ou especialidades, futuros médicos ilustres como Rui Coutinho, Luís Robalinho Cavalcanti, Clarival Valadares; futuros antropólogos como Manuel Diégues Júnior, Diogo Melo de Meneses, Ivan Seixas; futuros historiadores, como José Honório Rodrigues; e mais: o escritor, historiador e acadêmico Francisco de Assis Barbosa, e, ainda, o scholar exemplar: Edson Nery da Fonseca. O primeiro - Ruy Coutinho - confirmaria, com seu saber especializado, esta minha sugestão: a de ter havido raquíticos entre escravos vítimas de condições anti-higiênicas nos navios de transporte da África para o Brasil. O também médico Luís Robalinho confirmaria a presença, entre escravos, nas senzalas, de ainhum. Duas confirmações importantes.

Do livro O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX seria necessário que se fizesse a nova edição, agora empreendida pela Companhia Editora Nacional. É um livro que, no setor da Africanologia, toca em raízes. Descobre-as. Revela particularidades essenciais da presença africana no Brasil. Abre perspectivas inesperadas. Sugere novas abordagens de assuntos que

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