O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX

tão grande interesse humano, de tão grande importância para aquela interpretação do caráter, do ethos, da formação do brasileiro, do seu passado projetado sobre o futuro em que nos encontramos, não exageraria quem dissesse que foi o livro de que agora se lança nova edição que primeiro o descobriu como matéria de valor científico e de significado cultural, o apresentou de forma sistemática; que iniciou sua interpretação; que fez dele parte de toda uma - repita-se o neologismo - Anunciologia. Inovação - pode-se sugerir - em sua forma sistematicamente antropossociológica, brasileira; e não, como vêm supondo alguns, adaptação por brasileiro de técnica ou de método já de todo estabelecido no estrangeiro e aqui apenas introduzido. Havia já, aqui e no estrangeiro, é certo, utilizações parciais ou fragmentárias de informes ou de particulares oferecidos por essa riquíssima massa multidimensionalmente informática. Particulares históricos, por exemplo. Ou linguísticos. Ou folclóricos. Utilização de seus pitorescos. Mas tudo isso longe de uma sistemática antropológica e esta global.

Sua utilização global - antropossociológica - realizou-se através da concepção de sua importância que resultaria neste livro, precedida pelo que madrugara em utilizações pioneiras desde o ensaio do autor - ensaio, tese universitária - já referido: sua tese de mestrado na Universidade de Colúmbia intitulada Social Life in Brazil in the Middle of the 19th Century (Baltimore, 1922), anos depois traduzida para o português pelo antropólogo Waldemar Valente e publicada, com ilustrações, pelo Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, por iniciativa do geógrafo Mauro Mota, então seu diretor. E agora em segunda edição em língua portuguesa da Editora Artenova.

Trata-se - no caso de O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX - de antecipação brasileira no setor das Ciências do Homem que não deve ser esquecida: a de uma como que Anunciologia no caso especializada na análise e na interpretação de material antropossociológico relativo ao africano vindo de várias tribos para o trabalho, quer agrário, em plantações, quer doméstico, em residências. Um homem situado: situado como escravo. Situado num trópico brasileiro afim, mas não de todo semelhante, do trópico africano de sua origem que, de indistintamente africana, as evidências contidas em anúncios permitiriam fosse discriminada ou especificada. Especificação reveladora ou confirmadora de ter sido a política portuguesa de importação de africanos para o trabalho escravo - principalmente agrário -

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