O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX

no Brasil a de trazê-los de diferentes origens para que o entendimento entre eles se fizesse principalmente - é de supor - através de uma língua portuguesa aculturativa, abrasileirante, destribalizante, nacionalizante como meio de comunicação capaz de resolver o problema da confusão de dialetos afronegros. A importação de africanos de uma só procedência ou área e de um só dialeto facilitaria, entre eles, um entendimento que poderia levar a uma sobrevivência compacta, no Brasil, de todo um conjunto de costumes e de ritos peculiares de uma só área africana de cultura; e essa sobrevivência, um obstáculo àquele abrasileiramento através da língua portuguesa e da religião católica a cuja força unificadora - tanto a da língua como a da religião - não resistiriam subculturas, dentre as importadas, antagônicas ou dialetos incompreensíveis fora de suas tribos. Este um aspecto apenas de quanto vêm sendo significativas, para estudos brasileiros, as revelações contidas em anúncios relativos a escravos, em jornais brasileiros do século XIX. Principalmente naqueles diários que vêm acompanhando esse século desde a segunda década do mesmo século: o Diário de Pernambuco (Recife) e o Jornal do Comércio (Rio de Janeiro).

Conta o insigne Gilberto Amado nas suas memórias - aquelas que vieram decisivamente situá-lo como um dos maiores ensaístas da língua portuguesa - que ao ler Um estadista do Império, de Joaquim Nabuco, deparou-se com livro admirável como "documento histórico, mérito literário, poderes de estilo"; mas revelador de "incrível inobjetividade das nossas elites, da cegueira dos grupos dirigentes do país, para os quais, em pleno dinamismo do século XIX, os problemas da terra e do homem não existem". Os três volumes de Um estadista do Império pareciam-lhe gritar não existir uma nação brasileira.

Daí ter decidido "elaborar um livro" que "circunstâncias inesperadas o impediram de concluir"; e que, tendo por título Psicologia da civilização brasileira, consideraria, "pela primeira vez no Brasil, o problema da nossa formação... a uma luz de todo em todo diferente da dos escritores que me antecederam". Isto é "falar sobre o Brasil, não pela história externa das instituições, mas pelo estudo das condições do meio, raça, costumes, inter-relações dos fenômenos raciais entre si por método indutivo". Acentuando: "do estudo dos fatos é que se procuraria chegar ao conhecimento das normas políticas, formas de governo, leis e disciplinas que regulam a coexistência dos povos". Livro que o ensaísta

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